O título dessa coluna não é meu. Peguei emprestado de um poema do argentino Juan Gelman, considerado um dos grandes autores em língua espanhola e cuja obra é tida como uma das mais importantes da poesia latino-americana, para pensar sobre as nuances do enamoramento. Essa pergunta é usada pelo jornalista Eric Nepomucenno no programa Sangue Latino do Canal Brasil, em trechos que volta e meia fazem sucesso nas redes sociais.
Gosto muito do trecho da poeta portuguesa Matilde Campilho, ao defender que “há grandes amores que precisam sossegar, geralmente aqueles que não terminam”:
— Mas se o amor não sossegar nunca, sabemos todos que a gente não vive. O amor tem os seus tempos, a paixão tem os seus tempos... Aqueles amores explosivos, que arrebentam tudo e arrebentam com a gente e, às vezes, arrebentam com o outro, olha, eles não podem ficar sempre assim, a gente não pode ficar sempre assim. Pelo que tenho visto até hoje, o amor que serena não termina. Aquilo fica, transforma-se. Eu não acredito muito em fins.
Recorro à essa entrevista depois de assistir a uma declaração de (ex) amor do ator/apresentador João Vicente de Castro, que nem gosto tanto, para a apresentadora Sabrina Sato no Papo de Segunda Verão, veiculado no GNT. Ele, que tem fama de se dar bem com as ex-parceiras, explicou que não se trata só disso e teceu uma série de elogios a ela, que participava da mesma atração. Falou que a considera “família” e “muito f*”. Achei bonito ver um ex falando de forma tão afetuosa da pessoa por quem era apaixonado, depois que o romance terminou. O distanciamento temporal ajuda, óbvio, porque a mágoa se dissipa e sobra pouquíssimo daquela interação que um dia fez muito sentido.
Mas tudo o que nos faz sentir acaba provocando reações inesperadas e diferentes em cada um. Exemplifico de forma bem rasa, aproveitando a mesma pergunta de Nepomucenno no mesmo programa, para outro interlocutor, para mostrar que sentimento é bastante particular, até para quem utiliza o sentir como matéria-prima de trabalho. O escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez traz uma perspectiva oposta à da Matilde:
— Eu não acredito no amor sereno. Eu acredito no amor desesperado, louco, viver em um bolero contínuo. Tenho 62 anos e continuo amando dessa maneira. Continuo amando desesperadamente. Acho que nunca tive um amor tranquilo, equânime, sereno. Talvez seja meu carma. Esse é meu carma em relação ao amor. Mas me faz muito feliz.
O amor pode terminar leve ou pode ser avassalador. Dá, então, para condenar Shakira, que está presente em muitas das minhas rodas de conversa, por conta de BZRP Music Sessions #53? Ela teve coragem de expor uma traição e fez uma canção cheia de indiretas ao ex-marido Piqué. Ela canta que “as mulheres não choram mais, as mulheres faturam”. Embora reconheça o valor dessa catarse, acho pouco provável que já tenha parado de doer. Mas isso nem importa tanto agora: uma hora esse (ex) amor também vai serenar.