Quem caminha pelo Centro de Caxias com um mínimo de atenção no momento presente já deve ter reparado em árvores, bancos e postes enfeitados com bilhetes coloridos, com mensagens carinhosas escritas a mão pela Teca. Sou fã dela e, sempre que passo por algum deles, aproveito para compartilhar com amigos. Por que faço isso? Porque tenho convicção que receber palavras positivas de um jeito inesperado pode transformar o dia de uma pessoa — e, não, não estou apelando à positividade tóxica. É só compartilhamento de afeto, puro e simples.
“Faça um detox no teu campo afetivo”
“Espalhe carinho, receba bênçãos”
“Borrifadas de tolerância ao dia”
“Deixei aqui um sorriso. Faça o mesmo”
“Quando estou ao teu lado me reinicio”
“Chega de casulo, eu quero é borboletear!”
“Qual a tua cor no arco-íris da vida?”
Eis algumas que fotografei nos últimos dias e que mandei, inclusive, para a própria Teca. Contei que sou admiradora do gesto dela, que proporciona essa pílula de alegria colorida em meio ao cinza da cidade. “Conexão de alma”, me disse. Contou que quando escreve, lá pelas seis e meia da tarde, mentaliza alguém que vai sentar em um ônibus, triste, e precisa de uma “frase certa”. Ela pensa nos moradores em situação de rua, nos varredores da Codeca, que circulam pela cidade o dia todo e às vezes não estão no melhor dia: “ler essa frase dá um up”, acredita.
Sou dessas. Teca é sensível e empática. Tenta fazer essa partezinha e diz que mesmo se o mundo dela não está legal, ela pode tentar fazer com que o meu fique, por exemplo. Essa foi uma das declarações mais bonitas que ouvi nos últimos tempos. “É que sou pisciana, com ascendente em Peixes”, disse. E a pisciana, aqui, com um menos emotivo ascendente em Áries, conseguiu entender direitinho a sentença.
Outra experiência maravilhosa, com uma sensação de afago parecida, é uma corrente literária que comecei a participar via Instagram. A partir do story de uma amiga, enviei apenas um livro para uma amiga dela e já recebi oito exemplares maravilhosos. Teve quem me entregou pessoalmente e até tirou selfie para mandar para a amiga. Teve gente de longe que mandou bilhete desejando boa leitura e vida longa à iniciativa — dedicatórias, aliás, permitem duas camadas de leitura em uma obra, né? No final das contas, tenho ganhado bem mais do que livros: recebo energia boa, sei que alguém pensou em mim com curiosidade e interesse, escolheu algo que gosta bastante e tem significado especial para me enviar.
Tal qual as frases da Teca, os livros se transformam em bálsamo duas vezes: pela possibilidade de leitura em si e, especialmente, por estarem recheados da vibração feliz de quem os enviou.
Receber carinho sem esperar, no meio de um dia caótico, funciona mais do que como um respiro: é uma espécie de abraço. E quem não precisa de abraços, né?