A arte protagonizada por Alexandra Faccio, 50 anos, integra a paisagem urbana de Caxias do Sul há mais ou menos uma década. Você com certeza já esbarrou os olhos com as mensagens positivas e humoradas que ela deposita por aí, assinadas pelo apelido “Teca”. As frases são escritas de próprio punho e ganham destaque com tecidos e fitas coloridos colados no papel. Geralmente, as mensagens da Teca habitam espaços públicos como as árvores da Praça Dante Alighieri, os bancos dos ônibus da Visate, muros, corrimões ou qualquer lugar que comporte um fiozinho com um papel a balançar. Mas, neste mês, as criações da artista estão também dentro do Museu Municipal reunidas na exposição Perdas e Recomeços, que pode ser visitada até o dia 29 deste mês.
– Acho que esta exposição ajuda a mostrar que não sou só uma mensageira das ruas, que atrás de cada grampinho colocado no papel, existe uma arte. Ter meu trabalho dentro do Museu Municipal é um reconhecimento importante – diz ela, emocionada.
Teca começou esse trabalho na época que morava em Capão da Canoa e integrava um grupo de jovens da igreja católica. Quando retornou a Caxias, quis manter a missão de levar boas mensagens às pessoas. Uma vez, entregava seus bilhetes artísticos de mão em mão, mas hoje gosta de deixar as peças em lugares estratégicos, à espera do encontro inesperado com alguém.
– Tento transformar o dia das pessoas, agregar algo de bom. E o legal é que essas artes caem justamente onde eram para estar, são encontradas por pessoas que precisavam ler o que está escrito ali. Vai direto para o coração.
Teca exibe até mesmo um calo em um dos dedos da mão, resultado do trabalho artesanal que realiza diariamente em meio a canetinhas coloridas, papéis, grampos e tecidos. Essa veia analógica do trabalho é também uma maneira de combater a digitalização do mundo.
– Sou do tempo do papel. Hoje em dia, ninguém conhece mais a letra de ninguém – critica.
Para tocar e ser tocado
O Museu Municipal é cheio de peças históricas em seu acervo, por isso, o alerta de “não toque” está em praticamente todos os lugares. Mas na exposição Perdas e Recomeços essa lógica se inverteu. As mensagens assinadas por Teca foram dispostas suspensas por inúmeros tecidos presos ao teto que convidam o visitante a manuseá-los, testando sua elasticidade. Em outro espaço, o espectador é convidado a deixar sua própria mensagem escrita num bilhete, o que garante o perfil interativo da iniciativa.
A exposição integra a Primavera dos Museus e foi pensada para fazer uma analogia com o período da pandemia. Por isso, para acessar a mostra, o visitante passa primeiro por um túnel escuro, que representa as mortes e as dificuldades enfrentadas neste período. Mas o túnel desemboca num emaranhado colorido de tecidos que fazem flutuar as mensagens cheias da afeto da Teca. Uma delas diz: “Agora que atravessaste este túnel tão triste, energize-se com esta dose de esperança que deixei-te com carinho”.
As idealizadoras
As responsáveis por tornar a exposição de Teca uma realidade são as estagiárias do Museu Municipal Renata Finn, 22 anos, e Larissa Silva Fogaça, 19. Ambas são estudantes de Artes e tiveram a ideia de relacionar o sentido de “recomeço” com as obras de Teca.
– Muitas vezes eu estava triste e via os recados da Teca. Aquilo trazia um “up”, uma tranquilidade – diz Renata.
Para encontrar a artista, avessa às redes sociais e facilidades do mundo digital, a dupla pediu ajuda num grupo de Facebook chamado “Te vi no Visate”. Foi lá que acabaram encontrando o contato da filha de Teca.
Bate-papo hippie nesta sexta
Assim como a arte de Teca vai de encontro às pessoas, a exposição Perdas e Recomeços também quer promover o contato com o público, mas desta vez cara a cara. Nesta sexta (8), às 18h, vai rolar um bate-papo no Museu Municipal protagonizado pela artista. E, já que se autodefine como uma “eterna hippie”, Teca faz um convite especial para quem quiser ir até lá:
– Adoraria que as pessoas fossem vestidas num estilo “paz e amor”, bem “era de Aquarius”.