Para quem gosta de histórias, como eu, as Olimpíadas são um prato cheio. O que assistimos na tevê — e, nesta edição, em horários malucos — é bem mais do que a representação esportiva de cada um. A diversidade de trajetórias e superação é fantástica, as desigualdades sociais e a luta em busca do êxito fazem parte de várias narrativas, que acabamos conhecendo apenas a partir do holofote que é colocado sobre cada atleta olímpico. São momentos, também, de muitos aprendizados.
Fico impressionada sobre como os atletas — com ou sem patrocínio —precisam abdicar de quase tudo para se dedicar aos treinamentos. Como a vida se resume a testar os limites e ir além. Acumular frustrações, vontade de desistir, sublimar o orgulho e recomeçar, todos os dias. Os que têm melhores condições de preparação, recebem ainda uma carga de expectativa com a qual nem sempre estão preparados para lidar — a estrela norte-americana Simone Biles que o diga. Nem ela expressando desequilíbrio emocional, conseguiu conquistar a empatia de todos. Talvez porque o senso comum acredite na superação dos obstáculos de cada atleta, esquecendo que a vida é maior do que o esporte. As histórias, portanto, são bem mais do que o pedacinho que vemos naquele instante que os esportistas entram em quadra, no tatame, na piscina, no tablado, na pista ou no mar.
Poderia citar vários exemplos dos Jogos de Tóquio, mas achei muito emblemática a participação da holandesa Sifan Hassan, corredora dos 1,5 mil metros. Considerada uma das favoritas, ela caiu ao tropeçar na queniana Edina Jebitok, que havia ido ao chão segundos antes. Mas Sifan conseguiu levantar-se rapidamente, voltou à prova e, impressionantemente, ultrapassou a adversária australiana Jessica Hull e venceu a corrida.
Quem não gostaria de ter esse poder de reação da holandesa, né? É inevitável saber que vamos tropeçar muitas vezes e, em algumas delas, vamos cair. Em umas, vamos só ralar os joelhos. Em outras, vamos nos machucar mais profundamente. Mas, em ambos os casos, só há uma atitude a ser feita: levantar do chão. Curar as feridas. Seguir com determinação.
Conseguir fazer isso tudo em um mesmo trajeto, em sequência, é ainda mais incrível. Cair, levantar, seguir caminhando e, no final, poder comemorar as vitórias, como se os tropeços fossem apenas ingredientes que dão graça e enchem de humanidade as histórias. Essa é a lição que vou levar dessas Olimpíadas, da mulher que caiu feio, mas se levantou para vencer. E venceu.