Recebi uma mensagem por whats app da síndica do prédio onde moro, avisando que ficaríamos sem água por algumas horas, porque seria feito um conserto em um apartamento. Falta d’água é sempre um transtorno, mesmo que momentâneo, e só nos damos conta disso quando somos, arbitrariamente, privados de algo. Logo que a caixa d’água voltou a encher, houve um vazamento no vaso do meu banheiro. Ele parecia bem pequeno, não dei a importância devida, e acreditei que a situação iria se resolver por conta própria — como se encanamentos respeitassem alguma espécie de vibração do universo.
Eis que o vizinho de dois andares abaixo apareceu na minha porta, preocupadíssimo, porque estava com o banheiro alagado. E, pelo que soube, havia um vazamento no meu vaso e a causa só poderia ser essa. Passamos dois dias na função, com encanador abrindo válvulas e canos, tentando trocar até o que não precisava e não houve reflexo nenhum no outro apartamento. Achei que tivesse percebido que fiz o melhor para tentar auxiliá-lo, embora meu entendimento sobre hidráulica se resuma a abrir e fechar a torneira. A ajuda especializada demorou um pouco e ainda aguardamos algum parecer definitivo.
Passamos, então, a confabular sobre o que poderia ter ocasionado o problema e nossa versão favorita é de que a caixa d’água, quando religada, provocou tamanha pressão em algum cano já desgastado que ele não aguentou. Só que ele não está aparente e ainda não o encontramos, sequer sabemos se estamos certos. Só vimos o vazamento, o momento em que o problema chegou ao auge, extrapolou. E o vazamento incomodou. Ele ficou chateado, depois ficou bravo, achou que eu estava agindo de má-fé. Ao observar a situação mais de perto, viu que tentei resolver do melhor jeito possível — e mudou a percepção que tinha.
Não sabia ainda, mas logo depois vivenciaria uma situação bem parecida com a dos canos do prédio — é até engraçado conseguir ver verossimilhança em qualquer desgraça anunciada.
Quantas vezes a gente não vai guardando emoções, frustrações, tristezas e, sem perceber, dimensiona errado tamanho do problema. Às vezes, o que era para ser uma simples manutenção de rotina, transforma-se em um cenário de caos, em que não é possível encontrar uma solução imediata para os pés que insistem em ficar alagados. O que poderia ser resolvido com um registro fechado, um pano e um chinelo de dedos, vira uma inundação.
O que mais me chateia é o fato de eu não ter conseguido prever o estrago a tempo. Fiquei tão distraída com a pressão da caixa d’água e o encanador, achando que sempre haveria uma saída feliz, que conversa e boa vontade seriam suficientes para superar qualquer adversidade. Um mini curto-circuito me impediu de perceber que água vazando pouquinho (também dos meus olhos) deveria ter acendido um sinal de alerta.
A síndica poderia ter me avisado dessa também, né? Mas nunca são os outros... Que pena que ninguém percebeu a tempo de evitar os estragos. Agora só me resta manter as torneiras fechadas, à espera de que exista uma solução, assim que possível, para poder abri-las novamente.