O título “Como escrever uma carta de gratidão” chamou minha atenção entre as várias sugestões na newsletter do The New York Times que recebo por email. A ideia é tão bacana, que decidi falar dela aqui. Mais do que isso, ela pode nos trazer um pouco de conforto nesse momento pandêmico, com tanta tristeza e dor que nos circundam. Não sou alienada, reconheço o horror dos dias atuais, mas sou uma otimista inveterada.
Percebi que, nesta semana, completou um ano que estou em teletrabalho, que praticamente não vi meus colegas ao vivo, que as reuniões são todas virtuais e que os cafés animados se transformaram em uma promessa de futuro. Paralelamente, passei a olhar mais para mim mesma e a valorizar pequenos grandes gestos das pessoas ao meu redor. Quando o mundo parece desabar, são justamente essas coisas que nos dão o suporte e mostram o nosso privilégio — e aqui nem falo de ter cama, geladeira, comida, emprego, wifi, Netflix...— de podermos contar com uma rede de afetos. Não seria lindo se essas pessoas pudessem saber exatamente como fazem a gente se sentir? E não seria bom a gente guardar esses textos, para ver como existem muitas histórias que dão sentido à nossa vida?
Fiz aniversário em meio à pandemia, não pude fazer festa na minha data preferida do ano, mas ganhei um monte de manifestações de carinho. Recebi ligação exatamente à meia-noite, recebi um parabéns a você cantado na versão lusitana, recebi jantar pensado especialmente para mim, brindei com a família, ganhei felicitações de amigos novos e amigos de infância. Um dia que poderia ter sido meio triste, transformou-se em um combo de amor — eu poderia estar apegada à ideia de que envelheci “por nada”, já que sequer pude receber abraços que tanto amo.
E esse foi apenas um dia, mas os convido para que comecem a reparar no tanto de coisas que podem virar motivo de sorriso só por lembrarmos delas. Teve o docinho na porta deixado pelo vizinho, o amigo que cuidou do meu machucado no pé, o empenho da moça do seguro, a tele-entrega com uma embalagem especial e linda, o sol que iluminou a semana toda, o arco-íris que surgiu em meio à chuva. O apartamento novo ganhando forma, a promessa de mudança. As conversas multiplataforma, a possibilidade de corrigir erros de percurso, o desejo de reinvenção... A pulsação dos dias, o texto Os Justos, do Borges, a tentativa de acertar os agudos na canção Folhetim, a sintonia de pensamento entre quase estranhos...
Ou seja, eu poderia escrever várias cartas de agradecimento e tenho certeza que você também pode. Há dois motivos principais para fazer isso: quem escreve se sente bem, por ter a consciência das pequenas bênçãos cotidianas, e quem recebe também experimenta uma sensação positiva de despertar bons sentimentos no outro. Uma dica valiosa é pensar nas cinco pessoas que você mais quer abraçar quando tudo isso passar. Anote os nomes —palavras escritas ganham outra força! — e tenha a certeza que não está sozinho. Dê crédito àqueles que lhe fazem bem. Mostre aos outros como são especiais e se deixe surpreender.