Ouvi de um amigo querido que me admirava por eu estar sempre aprendendo. Assim, no gerúndio, essa forma nominal do verbo que expressa continuidade. Isso porque tinha contado sobre minhas aulas de canto, desejo antigo que resolvi colocar em prática há duas semanas, com a ajuda e o incentivo da profe Tatiéli Bueno. Não toco nenhum instrumento, não entendo nada de teoria ou solfejo e estou mal começando nos aquecimentos vocais cheios de brrrrrrrrrrrrrrrrr, trrrrrrrrrrrrrrrr, caretas para articular a voz e entendimento sobre respiração diafragmática. Será uma jornada e tanto, mesmo sem eu ter pretensões artísticas que extrapolem as festas de família, mas o importante é que está sendo leve e muito (muito!) divertida. E nem tinha colocado essa novidade nas minhas resoluções de Ano-Novo, que incluíam, entre outros dois itens (sou sucinta) comer menos açúcar, o que tenho feito (mas não é tão divertido).
Gosto bastante do conceito de lifelong learning, apesar de implicar com a expressão em inglês que, em tradução livre, significa aprendizagem ao longo da vida. Essa busca por aprender de forma contínua durante a vida, de maneira flexível, respeitando seu tempo, interesse e lugar é demais. É fundamental nos constituirmos como seres em construção e, mais do que isso, em transformação. Embora as pessoas que não nos veem há muito tempo guardem versões antigas nossas, que foram congeladas pelo tempo, é ótimo saber que melhoramos/evoluímos (inshallah) com o passar dos anos. Sejamos, assim, mais condescendentes com os outros, já que podemos ter as mesmas impressões distantes da realidade sobre as pessoas que cruzaram nosso caminho.
Estamos todos em progresso, eu espero. Há uma passagem interessante no romance-sensação Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, em que o pai olha para o filha e diz “o vento não sopra, ele é a própria viração” (...) “Se o ar não se movimenta, não tem vento, se a gente não se movimenta, não tem vida”. O vento também é elemento onipresente na obra O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, circunda todos os momentos definitivos da história e serve como demarcador do universo feminino: “Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando”. Foi num dia de vento que Ana Terra conheceu o mestiço Pedro Missioneiro e que Bibiana veio ao mundo: “Nasci em um dia de vento, como esse, e a velha tesoura de minha bisavó me separou de minha mãe”. É o movimento que ajuda a organizar a vida – ou a gente se obriga a organizá-la quando ela sai do lugar, não sei ao certo.
No ano passado, aprendi a nadar. Não entrarei na equipe olímpica, mas fico bem feliz em ter uma nova relação com a água. Sei, também, que por mais que eu aprenda, nunca serei Lady Gaga. Mas tenho certeza que serei melhor do que eu fui até agora – e olhar para minha jornada com carinho e saber das dificuldades para me constituir dentro dela deixam tudo mais especial. Só precisamos nos permitir.