“Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada”.
Adoro o lirismo dessa frase do Fernando Pessoa e fiquei pensando nela depois de ler um texto dizendo que todos nós temos uma frase de estimação, aquela que levamos para a vida, que vira uma espécie de mantra, que dá sentido ao que escolhemos, que ajuda a nos definir.
Parece um pouco exagerado, né? Mas seres simbólicos que somos, tentamos atribuir significado a quase tudo no mundo — da existência de um ser superior aos mistérios contidos em um mapa astral (perdoem-me os céticos, que defendem a ideia de que a posição de planetas em nada influencia nossas vidas, porque acreditam que a raça humana não tem essa importância no contexto universal). Ok, mas isso é outra discussão...
Na quinta-feira passada troquei ótimas impressões com o Gil sobre uma frase da crônica dele, sobre “tornar visível o visível” e as possibilidades de interpretações que a sentença dúbia de Michel Foucault traz. É o fato de olhar para o mundo com atenção. Adorei o alerta que ele trouxe, de que esquecemos de ver o que é evidente.
É bom poder evocar as aspas alheias para dar conta de nossas angústias, reverberar nossos sentimentos e nossas incertezas. Lembro de uma aula de mestrado com o genial Jayme Paviani, em que falava justamente sobre Fernando Pessoa e um de seus mais populares versos: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Para quem gosta da ideia do movimento, da travessia, de mudar sempre de lugar, não faltam possibilidades de usá-la. Mas eis que o nobre professor lançou luz a outro entendimento. Explicou que, neste caso, o preciso, não se referia a necessário, mas a exato. Conversando com um amigo de Amyr Klink em Paraty, que também velejava, tive essa impressão: há um método, uma ciência para se lançar ao mar. Para a vida, basta coragem. Não tem roteiro, experiência alheia ou ancestralidade que dê conta de responder às nossas — e somente nossas — perguntas.
Aí entra a subjetividade. Essas frases podem servir como uma espécie de mapa — um GPS, na versão mais recente —, da sabedoria acumulada pelos outros. Dá até vontade de fazer como a jovem filósofa italiana Ilaria Gaspari, que decidiu seguir, por seis semanas, os preceitos de diferentes escolas de pensamento da Grécia Antiga, que se transformou no livro Lições de Felicidade – Exercícios Filosóficos para o Bom Uso da Vida. Ela escolheu Pitágoras, Parmênides, Epiteto, Pirro, Epicuro e Diógenes como guias — a obra só chegou sexta-feira aqui em casa, ainda não tive tempo de contemplá-la com atenção. Mas como já elegi os estoicos como os meus filósofos favoritos, deixo uma frase de Sêneca, que adoro e evoco para explicitar o meu carpe diem:
“Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”.