Chama-se Ordem Natural das Coisas a música do Emicida pela qual estou encantada e empenhada em decorar a letra há alguns dias. Para quem nunca a escutou ou mal conhece o cantor — ou torce o nariz com alguma ideia preconceituosa preconcebida sobre ele — recomendo fortemente que se permita surpreender. Pode começar pelo arrebatador AmarElo — É Tudo para Ontem, meu filme favorito do quase longínquo 2020 (contém ironia!). Emicida é poesia pura, uma poesia fora da nossa bolha que, na pior das hipóteses, tem potencial para virar assunto com alguém interessante, já que, como diz uma amiga, ele "virou modinha".
Voltando à música, a letra traz um verso "O feijão germina no algodão, a vida sempre vence", que pode servir super como inspiração para esse ainda desconhecido 2021. As metas para o novo ano ainda devem estar latentes em muitos coraçõezinhos, algumas já foram descartadas antes mesmo de findar a primeira semana, mas o que vale mesmo é manter-se fiel e alerta durante os 12 meses, com olhar voltado para dentro de si. Olhar para os lados, a menos que seja para estender a mão a alguém, costuma ter bem pouca serventia.
É só nesse espaço interno que a gente consegue provocar e promover alguma mudança — no mundo todo, pretensiosamente, ou no nosso pequeno mundinho, mais pretensiosamente ainda.
Apesar de a grama sempre parecer mais verde no feed do vizinho, não vale a pena alimentar ilusões nocivas sobre a perfeição das vidas alheias. Isso, por si só, já é um baita aprendizado. Quase ninguém é o que parece, então o melhor é cercar-se das pessoas que, ao menos, não têm medo de ser quem são de verdade, com todas as belezas e imperfeições que possam carregar.
Também é bom ter em mente que não existe o "chegar lá". Existe a trajetória, o desencadeamento dos versos da vida, que nem sempre seguem uma lógica. Mas, enquanto houver essa sequência de dias e eventos cotidianos, há bem pouco a se reclamar. Precisamos, sim, aprender a agradecer mais.
É justamente a sucessão dos acontecimentos, aparentemente fora de ordem, que fazem o dia, o mês, o ano serem tão especiais. Penso, então, numa expressão japonesa que conheci há pouco tempo: ichi-go ichi-e. Traduzida, significa mais ou menos "um momento, um encontro". Ela alerta para o óbvio: os encontros são únicos e, por isso, devem ser valorizados como tais. Essa é uma das minhas metas para 2021: coisas (ações, lugares, pessoas) menos utilitárias e mais prazerosas. O resto os dias se encaminharão de promover.
E não há pressa ou método, porque Emicida já me alertou: "o sol só vem depois. É o astro rei, okay, mas vem depois".