Foi durante minha pós-graduação em Letras que desenvolvi um interesse enorme pela origem das palavras. É quase um vício, ainda mais para quem vive de apreciar textos como eu. Essa ciência tem um nome definido, etimologia, e se ocupa a explicar o significado das palavras e de onde descendem: do grego, do latim, etc. Eis que, recentemente, fui apresentada a uma ideia interessantíssima —o poder da vulnerabilidade, no livro Mais forte do que nunca, da Brené Brown — e logo fui pesquisar para ver ao que se referia o termo.
Vulnerabilidade vem do latim VULNERABILIS, “o que pode ser ferido ou atacado”, de VULNERARE, “ferir”, de VULNUS, “ferida, lesão”, possivelmente de VELLERE, “rasgar, romper”. Uma pessoa vulnerável é, portanto, aquela que se deixa ferir. É quase sem sentido acreditar que existe algum ganho em se machucar, mas como tenho alguma experiência no tema, valido as impressões da autora. Sim, eu me vi em muitas das sentenças concluídas por ela.
Brené é uma pesquisadora da Universidade de Houston que se propôs a entender quais eram as características comuns às pessoas que se fortaleciam depois de um momento no nada glamouroso “fundo do poço”, com toda a gama de possibilidades que cada espécie de derrota pode ter. Depois de muitas entrevistas e muitas reflexões, ela percebeu que “dar a volta por cima depois de uma queda é a maneira de cultivar uma vida plena, além de ser o processo que mais nos ensina sobre quem somos” e “quando nos escondemos, fingimos e vestimos uma couraça contra a vulnerabilidade, isso vai matando aos poucos nosso espírito, nossas esperanças, nosso potencial, nossa criatividade, nossa capacidade de liderar, nosso amor, nossa fé e essa alegria”. Apenas isso. Risos.
Ser vulnerável, em um mundo que pede para ser forte e não chorar, dá medo. Dá vergonha. Dá um nó na cabeça. Dá insegurança. A única forma de mandar esses sentimentos ruins embora é lidar com eles e entender o próprio coração, as imperfeições e as limitações que carregamos. Afinal, o juízo final acontece todos os dias, quando deitamos a cabeça no travesseiro.
Fingir que a vulnerabilidade não existe custa muito mais caro do que aceitá-la: jogar a própria fragilidade para baixo do tapete implica ter que sustentar uma vida de mentira, sem coragem e cheia de frustrações e ressentimentos. A pessoa vira uma morta-viva, porque fica anestesiada e vai se acostumando a não sentir, nem o que é ruim, nem o que é maravilhoso. A vida fica no mais ou menos, mais especificamente no menos.
Vulnerabilidade, apesar da exposição à ferida, exige uma coragem enorme, transforma nossa estrutura emocional e ressignifica os sentimentos de perda. Deixamos para trás uma parte de nós, é fato – nunca mais seremos quem fomos — e, em contrapartida, nos tornaremos uma versão verdadeira, real e bastante melhorada de nós mesmos.
Dá para acreditar que exista alguém que não queira assumir o risco de evoluir?