Tenho conseguido assistir a mais filmes, a mais séries, ler mais livros. Acho que esse tempo de sobra vem desse dezembrar com jeito de que nada se desenrola mais nesse ano. Possivelmente, por culpa das minhas próprias escolhas de narrativas, tenho me deparado com a romantização de todas as coisas. O amor, as amizades, os laços familiares, a maternidade… A lista de bem-mal-me-quer e é o que te para a janta, é imensa e sangra no cotidiano da sociedade – dentro e fora do cinema.
Que me desculpe o poeta, mas o amor não é bem grande se for triste. Se for triste, na minha concepção de mulher que já viveu muito, nem é amor. Amar alguém tem a ver com sorrisos e gozos, abraços e cumplicidade. Ora, pois, nenhuma dessas palavras que mencionei é sinônimo de tristeza.
Dos vernáculos que habitam a língua portuguesa têm uns que gosto mais. Reciprocidade é um dos meus afetos presentes no dicionário. Esse substantivo, que só poderia ser feminino, significa mutualidade, representando a característica do que é recíproco. Reciprocidade, em suma, é dar e receber, proporcionalmente.
Mais que uma condição essencial para a qualidade das relações entre as pessoas, a reciprocidade, quando dominada pelo ser, individualmente, traz a autoestima. E essa menina, caríssimos, transforma tudo, de dentro para fora e é vetor da forte mudança do eixo social da terra.
Sabemos que as relações, de uma maneira geral, são intensas e densas. Entendamos. Não é por ser seu familiar que a pessoa só vai te querer bem. Não é por seu companheiro que só vai te trazer desenvolvimento. Não é por amar o seu trabalho que ele te fará feliz. As regras, inclusive, não existem. Não é por isso e nem por nada, precisamos construir nossos próprios limites: de nós para o mundo, do mundo para conosco.
Romantizar as relações, em verdade, tiram delas a beleza de existir, pois confundem os bons e maus sentimentos. Ambos são reais e necessários, não há o que temer. Ninguém é feliz todo dia, nenhuma relação é boa o tempo todo. Mas, deve haver nesse entremeio, onde o tempo se acinzenta, uma vontade nossa de trazer as amenidades e levezas à superfície, respeitando o tempo e os sentires do outro, construindo, assim, beleza em coexistir. Dar colo a quem precisa e recebê-lo quando tudo em nós é choro é questão de justiça.
Já é ida a época de oferecer a outra face, de perdoar e esquecer. Se levou na cara, não permita mais a violência. Se foi traído ou machucado, dê as costas e não volte mais. Hoje, temos a necessidade de viver em paz com o mais profundo de nós. Não há razão para sacrificarmos nosso bem-estar em prol de que o outro esteja certo ou, simplesmente, esteja feliz.
A vida real não é leve, mas podemos fazer dos nossos dias mais nossos, escolhendo com responsabilidade quem nos habita o coração, a casa e a cama.