Descrente sei que não sou, creio até mais que deveria. Creio em mim, nas pessoas e no futuro. Mas, no conto do amor para toda vida, não boto muita fé. Sei que uma relação durável em afeto, respeito e reciprocidade é loteria pura. Ademais, cresci assistindo amores se desfazendo nas mais promissoras situações, por desmazelo ou incompatibilidade. É fato que também vi tantos outros amores sendo fortalecidos nas adversidades, contrariando o proposto fim. Na constatação do que presenciei em meus 35 anos, não me parece seguro afirmar a existência do infinito amor compartilhável.
No entanto, todos nós carregamos em nossos genes/ historicidade uma boa dose de lirismo e sonho de amor-perfeito. No fundo, eu também sou uma sentimental. Sou uma romântica cansada, talvez.
Ainda que o ‘felizes para sempre’ não exista no meu mundo, ainda que ‘sempre’ me pareça um tempo excessivamente extenso, ainda que as pessoas mudem como as estações do ano, eu ainda gosto de pensar que há alguém no universo para mim. Fixo os olhos no céu, vez ou outra, e, entre questionamentos sobre a existência ou não de vida em outros planetas e dúvidas ferrenhas do porquê tem gente que nega até a democracia, me pego pensando: haverá, em algum lugar, alguém que vá me ver desnuda das convenções e me conceberá humana, enxergando minhas miudezas, durezas, dificuldades e belezas? E, se houver, será que ela vai gostar do que vê?
São pensamentos que vêm e vão, nessas vezes ou outras que consigo um momento para contemplar o céu. Não norteiam meu caminho, mas são pequenas flores que encontro na estrada e paro para apreciar. Deixam a trajetória mais interessante, menos palpável, mais amena. E, amenidades são o grande trunfo da vida para mim, criatura muito real.
Não me permito perder a vida pensando na vida que não tive ou terei. Vivo o hoje, pois é o único mínimo controle que tenho. Os amores que se foram, deixaram lembranças de toda sorte, sou grata a cada um. Os amores que não aconteceram também deixaram suas lições. Os amores que virão, quero só avisar que estou me preparando para vivê-los com muito mais saúde e dignidade.
Vou seguindo os dias, aproveitando-os. Cumprindo o dever, batendo o ponto, brincando com minha filha, gargalhando com meus amigos e me embriagando de sonhos reais. Sigo seguindo, pois não tenho sina para sinal vermelho, gosto do verde que é a esperança para ir adiante. Só lá na frente pode ter algo melhor, eu sei.
Sim, eu creio no amor, mas não nesse amor que aprisiona e machuca e nos arranca a fórceps de dentro de nós mesmos. Creio no amor que compreende nossos limites e louva nossas ultrapassagens. Creio no amor que não espera o final para ser feliz, que não espera para sempre chegar. Acredito no amor que nasce disposto a ser felicidade todo dia.