Nem mesmo a tão romantizada primavera é composta somente de dias de sol ameno e chuvas frutíferas, então, me diz o porquê ainda acreditamos em felicidade plena? A vida tem sentido, assim como cada estação do ano, por seus desníveis. Avançar em estrada desempenada não nos imprime acréscimo na evolução que necessitamos. É indispensável subir e descer ladeiras, sentir os músculos das pernas pedindo parada, e seguir caminhando.
Não estou cá a dizer que a dor é bela. De forma alguma, não é. Dor é dor e se a pudermos evitar, melhor. Mas, é importante termos a consciência de que viver exige de nós superação ante as intempéries que vêm sem avisar. É vital que sejamos firmes, focados e que saibamos que estar sobre a terra é fusão de alegrias e tristezas.
A vida é dura, irmão! Não se engane. Mas, creia, coisas duras podem ser doces, produtos de grande trabalho. Veja a rapadura e não questione sua beleza, pegue um bom pedaço dela e apenas desfrute da sua docilidade.
Tenho tido que lidar com dias longos e árduos. Não posso fugir, são meus dias. Dias da minha vida. A única que tenho garantida. Preciso fazê-la valer a pena, preciso que ela seja de grosso calibre e deixe marcas aos que virão. Tenho buscado nas mínimas coisas, o prazer que me motiva ir adiante.
Nessa semana participei de um evento de degustação de cervejas artesanais. A mágica das múltiplas combinações de sabores e novas possibilidades de paladar me fizeram, momentaneamente, feliz. Guardei àquela sensação poderosa dentro de uma caixinha afetiva em minhas lembranças para usá-la quando tudo for sem graça, sem gosto, sem cheiro.
Mais cedo, fui dar o banho rotineiro na minha filha, ela pediu para lavar minhas costas. Achei engraçado, deixei. Me abaixei para que ela, tão pequenina, alcançasse meu dorso superior. Com a mangueira do chuveiro e sabonete em suas mãozinhas, passou a desenhar com os dedos a tatuagem que tenho ali. Enquanto me limpava, com todo cuidado, mal sabia ela que estava a operar um milagre em mim, curando minhas feridas.
Ainda há pouco, após uma situação complexa, alguém muito especial para mim, disse que me amava e que evitaria me magoar outra vez. Me senti valorizada no reconhecimento do seu erro e na sua vontade de mudança. Ali, pude refletir sobre o quanto sou falha ao exigir perfeição ao mundo.
Momentos como esses, de prazer, colo inesperado, humanidade, reflexão e respeito, me fazem ansiar pela próxima segunda-feira, d’onde me colocarei de pé e enfrentarei grandes desafios. Coisas assim, tiram a venda de vítima dos meus olhos e me fazem reafirmar para mim mesma que sou forte e obstinada e que dias ruins se vão. E os bons, igualmente.
A vida corre e salta, cruza nossas vivências com a de tantas outras pessoas. E, ainda tem o passado que nos atravessa e o futuro que atordoa tudo querendo chegar. Beira à inocência essa nossa vontade de não sofrer. O melhor é deixar doer e deixar o gozo vir. O depois, no depois, a gente vê o que faz.