Como na conhecida canção gaúcha, as ruas em que hoje se anda na Capital são “de um porto não muito alegre”. Um porto de tristezas, na verdade. E quando é assim, de mau tempo talvez até nos corações, é quando a mitologia ancestral da cidade parece acionar em seus cidadãos um mesmo sentimento de revolta num grito de “já deu pra ti” e na decisão de não mais se perder por aí. É tempo de despertar! E na astrologia, Urano é o grande despertador, seja por impulsos de inovação ou por rebeliões contra a ordem estabelecida.
No céu astrológico do dia da fundação oficial de Porto Alegre – a 25 de março de 1772, quando o povoado de Porto dos Casais foi elevado a freguesia –, Urano, em Touro, estava no vértice de um tenso triângulo com as posições de Júpiter, em Aquário, e de Saturno, em Leão. Esses astros, em signos de meio de estação (chamados de fixos), podem sinalizar rígidas estruturas ideológicas e culturais. É como se Urano imprimisse certo extremismo tanto à expansão de Júpiter quanto ao conservadorismo de Saturno e ao embate contínuo entre ambos. E entre rebeliões e resistências, a cidade vem moldando sua identidade.
Uma breve pesquisa mostra como o movimento de Urano está ligado a impactantes eventos em Porto Alegre – envolvendo, claro, todo o Rio Grande e o Brasil. Em setembro de 1835, por exemplo, Urano transitava em Aquário, por sobre a posição original do Júpiter da cidade. Deu-se ali a eclosão da Revolução Farroupilha com a tomada de Porto Alegre pelos revoltosos. Em agosto de 1961, Urano passava pela posição original de Saturno. Foi quando a cidade armou-se em defesa da legalidade da posse de João Goulart como presidente, evitando um golpe militar no Brasil.
Já em janeiro de 2001, Urano se aproximou de novo do Júpiter de Porto Alegre. E a cidade sediou a primeira edição do Fórum Social Mundial, a partir das premissas de “um outro mundo possível”, conjugando propostas alternativas relativas à economia, ao social e ao meio ambiente, em nível global.
Veja: o ambientalista José Lutzenberger tinha Júpiter em seu mapa na mesmíssima posição que Porto Alegre, coincidindo com o ponto do signo ascendente do Brasil, em Aquário. Quanta sintonia! É de imaginar que a obra do visionário mestre porto-alegrense tenha importância fundamental nos desígnios que sugerem o Brasil como “país do futuro”.
E agora Urano está novamente próximo a sua posição original, em Touro, desta vez também com Júpiter por perto, assim como em 1941. Não que os encontros entre Júpiter e Urano sejam indicativos de enchentes. Antes, são semeadores de ideias futuras – luzes do “farol da divindade”. Pena que poucos mudem sem alguma situação extrema ou sofrimento. E já não adianta construir muros que separem a cidade da natureza – ou a proteja do cólera, como em 1856.
Na velha mitologia, Júpiter, Saturno e Urano protagonizam os conflitos primordiais de poder. Saturno castra o pai, Urano, e assume o trono do mundo, mas torna-se um tirano, até ser derrotado pelo filho Júpiter. Todas as correções de desmedida contaram com a ação direta ou o apoio de Gaia, a mãe terra, o planeta vivo que não tolera violações.
Então aí estás, Porto Alegre, em nome do Rio Grande e do Brasil, em nome de Gaia, com o dever de verter tua fúria cidadã contra a sanha da obscura política e do mercado voraz. Tens as armas do conhecimento, tens o legado de Lutz, tens as visões de outro mundo possível. Não vá se perder por aí. Nessa peleia pelo futuro, que tuas façanhas sirvam mesmo de modelo a toda Terra.