A astrologia popular e midiática costuma apontar, a cada ano, um planeta como regente do período. Tal prática divide os astrólogos, e sou do time contrário. Ao não levar em conta a posição real dos astros e sim uma sequência fixa entre eles, creio que esse destaque a um dado planeta resulta menos num quadro geral do ano e mais no atendimento a uma extrema simplificação da astrologia. Pelo dito revezamento planetário, comum no Brasil e não em outros países, 2022 será regido por Mercúrio. Coincidência ou não, neste ano, devido a certas configurações, Mercúrio estará em evidência no mapa natal do Brasil, problematizando seus temas.
Associado ao mítico deus mensageiro, Mercúrio rege as comunicações e as trocas. Isso abarca desde as informações que circulam no cotidiano ao fluxo dos mercados. Por sua regência sobre os signos de Gêmeos e Virgem, Mercúrio também se associa a assuntos como educação, mobilidade, trabalho e saúde. No mapa natal do Brasil, Mercúrio está no próprio signo do país, Virgem, numa posição que seguirá recebendo a oposição de Netuno em Peixes. Não é um aspecto fácil – e já vimos um tanto dele em 2021 –, pois envolve planetas de naturezas opostas: é a clareza mental mercuriana contra a fantasia netuniana. Resultados dessa combinação têm sido o império das notícias falsas e das mentiras deslavadas e o disparo criminoso de conteúdos nas redes sociais.
Num ano eleitoral, em que a difusão de informações e propagandas assume um papel fundamental, soa por demais perigoso esse céu propenso a guerra de narrativas e outras distorções do real. Para complicar, em 2022, o planeta Mercúrio terá quatro períodos de retrogradação – contra os normais três, de 22 dias cada, a cada três meses –, nos quais tendem a aumentar os problemas de comunicação. São estes os períodos de retrogradação do planeta: de 14/01 a 03/02, de 10/05 a 02/06, de 10/09 a 01/10 e de 29/12 a 17/01/23. O cuidado deve ser redobrado nesses ciclos.
Uma outra ênfase mercuriana virá a partir do mapa do começo do ano astrológico, dia 20 de março, cujo ascendente, calculado para o Brasil, será Gêmeos. Neste mapa, o regente Mercúrio estará conjunto a Netuno e Júpiter em Peixes. Quando em Peixes, dizemos que Mercúrio encontra-se exilado, ou seja, enfraquecido em seu poder discriminatório por estar no domicílio oposto ao que governa. A conjunção com os regentes desse signo oposto destacam
ainda mais a submissão dos temas de Mercúrio a interesses maiores em meio a muitas cortinas de fumaça.
Também regente de Peixes, o gigante Júpiter pode amplificar o bombardeio de falsas notícias e promessas ilusórias. A natureza fluida e ambivalente do último signo do zodíaco favorece a disseminação de conteúdos escusos sem controle. No entanto – e aqui surge algum alento contra esses riscos –, atribuímos a Júpiter o papel de legislador e juiz. Justiça e tribunais são assuntos jupiterianos. Por isso, o poder judiciário deverá ser determinante na regulamentação das comunicações em tempos eleitorais e na punição dos excessos.
Talvez possa ganhar destaque a esperada legislação que evite ou controle o uso da internet para fins de manipulação. O mesmo vale para o tráfico ilegal de dados pessoais. Outros problemas em áreas mercurianas – de escolas aos transportes, de empregos a custo de vida e saúde – também podem ser enfrentados a partir de critérios judiciais. Enfim, sem as instituições oficiais, o vale-tudo comunicacional pode complicar ainda mais o caos nacional. Olho vivo, então.