Quisera o velho deus romano Janus pudesse nos contar agora o que virá neste novo ano. Janus presidia os limiares, como portas e janelas, e, por isso, era retratado com duas faces: uma voltada para o futuro, e outra, oposta, voltada para o passado. De seu nome derivou-se janeiro, o mês de abertura do calendário que os romanos passaram a adotar a partir de 49 a.C. e que, corrigido séculos depois, embasa nossa marcação do tempo. Hoje, no portal de um novo ciclo, esse deus duplo associado ao que se abre ou se fecha nos convida a pensar no quanto do passado estará no porvir.
Para a astrologia, cada ano começa com a entrada do Sol em Áries, no equinócio de março. Mas, se cada começo é importante, também cabe observar o céu inicial do ano civil, sob o signo de Capricórnio. Aqui o mito antigo nos dá uma informação que merece análise. Saturno, o astro regente de Capricórnio, era associado ao deus homônimo, senhor do tempo e das colheitas. Quando Saturno chegou a Roma, expulso do panteão grego por Júpiter, foi bem acolhido por Janus. E ambos, em mútua colaboração, promoveram uma era dourada de paz e prosperidade. De Saturno, o prudente Janus teria recebido o dom de conhecer o passado e o futuro.
A prudência de Janus talvez sugira que sem as lições do passado não podemos fazer do futuro algo novo e duradouro. Como o céu deste novo ano não traz grandes diferenças em relação ao de 2021, podemos imaginar que ainda teremos um tempo às voltas com o que nos cabe transformar. Exceto Júpiter, todos os planetas lentos, indicadores de longos ciclos – de Saturno a Plutão –, prosseguem nos mesmos signos em que já estavam. Temas estruturais e materiais seguem evidentes, haja vista a permanência de Urano em Touro e de Plutão em Capricórnio. O deslocamento do eixo dos nodos lunares (signos onde ocorrem os eclipses) para a polaridade Touro-Escorpião, em 2022, confirma o foco de tensões em torno de recursos, indo do meio ambiente ao âmbito financeiro.
A tensão de Saturno com Urano, destacada em 2021 e identificada com os embates entre o velho e o novo (olha as caras de Janus!), ainda segue, mas já se encaminhando para um desfecho. O efeito dessa configuração sempre é de instabilidade e polarizações. O ápice disso pode ser no segundo semestre de 2022, até que chegue dezembro com alguma promessa de solução. Saturno permanece no signo do futuro, Aquário, até março de 2023. Pelo olhar bifronte e prudente de Janus, devemos ao menos atentar para erros que não podem se repetir adiante. Como signo ligado ao coletivo, Aquário sugere ações que mirem o todo e o amanhã.
E a grande novidade do ano é a conjunção entre Júpiter e Netuno, em Peixes, que ocorrerá em abril. De início, podemos louvar o efeito benéfico desse encontro entre os dois astros regentes de Peixes em seu próprio domicílio. Ambos estimulam um espírito compassivo e inclusivo. Assim, tal conjunção pode trazer alento em temas que envolvam a saúde e os medicamentos, por exemplo. No entanto, há a ambivalência do duplo signo de Peixes. Há a euforia confiante jupiteriana e a face enganosa de Netuno. Por isso, outra vez, a citada prudência de Janus deve ser praticada.
Como o único planeta lento que mudará seu status em 2022 – de maio a outubro passa pelo fogoso Áries –, Júpiter sugere ampliações e avanços. Empurra-nos para a frente, rumo ao futuro. Mas, sem olhar para trás, para o que ainda não resolvemos, até onde vai nossa visão de amanhã? O velho Janus, sempre cauteloso, recomenda: pare, olhe, escute.