Gilmar Marcílio
Um dos aspectos negativos advindos da modernidade é a constante sensação de nos encontrarmos exauridos o tempo todo. Desconhecemos a saciedade, somente breves intervalos antes de iniciar novos projetos. Não se pretende negar aqui o valor das bem-vindas descobertas em diversos campos e tampouco o que esse impulso renovado de autossuperação trouxe para o desenvolvimento da nossa espécie. O fato incômodo é o de termos entronizado essa certeza: deve-se caminhar constantemente em busca de algo, ultrapassando o que ontem vislumbrávamos como novidade. O cômputo disso é a tensão patológica envolvendo propósitos e resultados. Em outras palavras: abolimos o sentido de bem-estar, fomentando dia após dia a convicção de devermos ir ao encontro da excelência – admirável, mas tantas vezes inatingível. No universo virtual, somos seduzidos por essa ideia: nunca há suficiência, só renovados impulsos, alavancando números e cifras. Tenho saudade da época em que existir podia significar acomodar-se docemente, sem se entregar a todas as ofertas postas diante de nós. Se, por um lado, estamos dando saltos exponenciais em relação à informação e ao conhecimento, desaprendemos a capacidade de relaxar. Poucos sabem se entregar aos acontecimentos, sem a necessidade de mostrar uma força que está além de nós mesmos.
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