O conceito positivista de ordem e progresso está no imaginário moderno. Acreditamos, com razão, que a vida mostra um renovado impulso rumo ao seu aprimoramento. Resistimos à ideia de simplesmente observar a fruição natural do mundo. O desejo de interferência parece compor inexoravelmente o itinerário humano. No entanto, nem sempre foi assim. Durante séculos, a imobilidade social, política e de costumes, revelou-se o mais alentado projeto a nos guiar. A mudança, nas comunidades pré-industriais, foi deixada de lado em nome da manutenção de valores consolidados. Avançar não era um propósito alimentado pelos grupos detentores de poder e tampouco dos que a eles se submetiam. A manutenção da autoridade dependia, em certo sentido, da capacidade de assegurar princípios e condutas avalizadas pelo arco da história. Dar um passo atrás, em alguns momentos, era digno de admiração. Hoje, movidos pela noção expansionista ditada pelo mercado, sentimo-nos incomodados diante da perspectiva de colocar de lado a ação em favor de algo menos dinâmico. Poucos se rebelam contra o frenesi com o qual andamos abraçados desde que acordamos. Produzir e inovar tornaram-se os novos corolários destes dias tão atarefados.
Esse plano contemporâneo carrega em si o seu mérito, sem dúvida alguma, mas não podemos enaltecê-lo reduzindo-o à única vertente de pensamento adotado. Particularmente, prefiro domar este ímpeto de fazer impulsivamente (às vezes falho). A mente acaba sofrendo por, constantemente, atrelar-se a uma filosofia do cansaço, na certeira expressão do filósofo Byung-Chul Han. Dia bom, acreditamos, é aquele de produção excedendo à expectativa. Cumprir e superar metas pode ser aceitável quando o foco é estritamente acumular capital. Mas se queremos redesenhar a existência incluindo planos de serenidade e bem-estar, precisamos rever o que foi entronizado como verdade inquestionável. Combato dentro de mim a inclinação de alimentar a crença de terem sido as épocas anteriores o abrigo de um ideal próximo da perfeição. Virtudes e equívocos acompanham indissociavelmente nossa trajetória desde os primórdios. A pátina do tempo reveste-se de falso brilho e flerta com ideais de dominação ou mesmo de ressentimento. Nosso é apenas o presente fugidio e olhá-lo com senso crítico, mas sem melancolia saudosista, parece bastante sensato. Ora, por que não validar a aptidão de mudar o roteiro a que parecemos destinados? Nada é estanque. Qualquer perspectiva é passível de confrontação, colocando a inteligência para servir nossos intentos. Deve-se reconhecer que tudo necessita de revisão e escrutínio.
Para onde caminharemos se esquecermos de adotar essa visão? Difícil saber. Mas vale aqui o alerta: um povo feliz sabe reverenciar sua tradição, cimentando verdades longamente confirmadas. Já diziam os antigos: devagar com o andor. Só dessa maneira podemos contemplar a paisagem em toda sua riqueza e pluralidade. Parar pode ser também um avanço.