Gilmar Marcílio
O conceito positivista de ordem e progresso está no imaginário moderno. Acreditamos, com razão, que a vida mostra um renovado impulso rumo ao seu aprimoramento. Resistimos à ideia de simplesmente observar a fruição natural do mundo. O desejo de interferência parece compor inexoravelmente o itinerário humano. No entanto, nem sempre foi assim. Durante séculos, a imobilidade social, política e de costumes, revelou-se o mais alentado projeto a nos guiar. A mudança, nas comunidades pré-industriais, foi deixada de lado em nome da manutenção de valores consolidados. Avançar não era um propósito alimentado pelos grupos detentores de poder e tampouco dos que a eles se submetiam. A manutenção da autoridade dependia, em certo sentido, da capacidade de assegurar princípios e condutas avalizadas pelo arco da história. Dar um passo atrás, em alguns momentos, era digno de admiração. Hoje, movidos pela noção expansionista ditada pelo mercado, sentimo-nos incomodados diante da perspectiva de colocar de lado a ação em favor de algo menos dinâmico. Poucos se rebelam contra o frenesi com o qual andamos abraçados desde que acordamos. Produzir e inovar tornaram-se os novos corolários destes dias tão atarefados.
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