Gilmar Marcílio
Os meses de abril e maio nos presenteiam com belíssimos tons de azul no céu. Escrever essas palavras já é uma espécie de gentileza com a vida. Em dias recheados de expressões remetendo à doença, medo, isolamento, entre tantas, precisamos levar a alma para passear. Convite feito também através da fala comovente e poética do escritor e líder indígena Ailton Krenak: “Quando você sentir que o céu está ficando muito baixo, é só empurrá-lo e respirar.” Não são poucas as vezes em que percebemos o ambiente reduzir-se ao redor de nós. Sensação apartada de qualquer fenômeno físico: é algo brotando no peito, oprimindo, a despeito dos esforços em manter a sanidade emocional. O estado de vigília foi redobrado desde o início dessa revolução comportamental em curso que culminou em distanciamento para tantos. Nós, os felizardos que continuam sendo abastecidos com oxigênio e afeto, devemos celebrar constantemente: estamos vivos. Embora alguns arrisquem prescrever fórmulas destinadas a minimizar esse impacto, é imprescindível buscar em si itinerários de salvação. Mudou o imaginário coletivo e individual. Cada um se agarrando às reduzidas possibilidades de arejar a existência com ações atreladas ao bem-estar e ao conforto. Tentando instaurar nova noção de sentido onde já não parece haver.
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