O jornalista Henrique Ternus colabora com o colunista Ciro Fabres, titular deste espaço.
Ficou claro na segunda sessão legislativa do ano, nesta terça-feira (6), os primeiros reflexos do ano eleitoral na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Após a pauta do dia, que aprovou três projetos, os parlamentares da oposição aproveitaram o Grande e o Pequeno Expediente para fazer críticas ao governo do prefeito Adiló Didomenico (PSDB).
A primeira manifestação foi da mais nova líder de governo, Tatiane Frizzo (PSDB), em espaço cedido pelo vice, Elisandro Fiuza (Republicanos). A tucana usou a tribuna para destacar o AcquaFest — que reuniu mais de 30 mil pessoas no Parque dos Macaquinhos no último final de semana, de acordo com dados do Samae — e também a Festa da Uva, que começa na próxima semana. Rainha da edição de 2010, Tatiane puxou o tema após a visita da rainha Lizandra Chinali e das princesas Eduarda Menezes e Letícia de Carvalho no início da sessão, que foram à Câmara fazer o convite oficial aos vereadores.
— Que a gente consiga ao longo deste ano fazer debates produtivos aqui, com respeito. Apesar das diferenças ideológicas e apesar de ser um ano de eleição, que a gente coloque acima disso o interesse da população — destacou Tatiane, na primeira manifestação em tribuna liderando o governo.
Na sequência, o principal assunto foi a educação, a duas semanas do início do ano letivo no Ensino Fundamental. A presença do secretário da pasta educacional, Edson da Rosa, na abertura do ano legislativo (foto) — seguindo a Lei Orgânica do Município que exige a apresentação dos planos e metas da secretaria para o ano na primeira semana da Câmara — foi elogiada pelos parlamentares. Entretanto, houve preocupação com o início do ano letivo, com o desafio em destravar obras de novas escolas apresentadas pelo secretário, e demandas por reformas que, segundo alguns vereadores, não saem do papel.
— Nós temos que fiscalizar a realização desses projetos, apoiar, cobrar, que é esse o nosso papel, mas é um baita de um desafio. Percebi muitos problemas que se repetem na educação, falta de vagas e assim por diante. Com a apresentação do secretário, fiquei motivado — disse Ricardo Zanchin (Novo), que puxou o tema da educação.
— Temos um esboço de várias obras que vão ocorrer, mas isso é uma parte muito pequena do problema que nós temos na educação. São questões estruturais, antigas e que precisam ser enfrentadas — alertou Lucas Caregnato (PT), que foi complementado por Gladis Frizzo (ainda no MDB):
— Eu sou realista. A escola (de Ensino Fundamental) do Desvio Rizzo tem dois, três anos, e ainda não conseguiram fazer a sala de diretoria nem dos professores. Todas as secretarias que tu liga (dizem que) agora não dá (para fazer a demanda) porque é tudo Festa da Uva. A diretora da (EMEF) Érico Cavinato pediu um novo projeto de conserto da escola, que está rachada, e até hoje não colocaram em prática.
Coube ao vice-líder Fiuza apresentar um contraponto:
– Pedimos ao secretário Edson para fazer projetos numa visão de estado. Ele assume a pasta já com uma judicialização de 3 mil vagas, imagina. Diante do orçamento apertado, sem o recurso cortado pelo Fundeb, para ajustar toda essa questão orçamentária, para fazer com que sejam feitas reformas, que são urgentes, e não são apenas deste governo, mas de vários anteriores. É um caminho projetado – aliviou.
Cobranças se estenderam
Não foi só a educação que recebeu cobranças na sessão. A cultura, o trânsito, o meio ambiente, a zeladoria e a saúde também foram áreas criticadas pelos vereadores. Rafael Bueno (PDT) cobrou a falta de atenção no interior, como a ausência de patrolamento em estradas, e falou de situações como o desmoronamento de pedras em áreas críticas, que afetam residências de moradores que cobram a prefeitura desde novembro por uma solução, segundo o parlamentar.
Rose Frigeri (PT) voltou ao tema do ressarcimento de valores pagos indevidamente ao InSaúde, gestor da UPA Central, após o registro irregular de horas médicas. Em aparte, a líder do governo explicou que o InSaúde optou pela negociação via Refis como qualquer devedor do município, mas admitiu que a saúde precisa de um novo sistema e que o instituto “não vem fazendo um bom trabalho” à frente da UPA.
Já Maurício Scalco (PL), que se coloca como pré-candidato à prefeitura, diz que levará para as sessões depoimentos da população sobre a cidade:
— Estou visitando os bairros e a reclamação é em todos os lugares. Vamos começar a trazer para o telão e para a Casa o depoimento da população, vamos deixar eles falarem.
A oposição, tanto à direita quanto à esquerda, mostra que vai usar o espaço da Câmara para cobrar o governo de Adiló, que será adversário no pleito de outubro. Já a defesa do governo ficou restrita praticamente aos líderes Tatiane e Fiuza – que terão muito trabalho neste ano.
Bressan rompe com o governo
Ainda na sessão desta terça, o vereador Adriano Bressan (PRD) anunciou o rompimento com o Governo Adiló. Integrante da base desde o início da gestão e filiado ao partido com maior presença no governo, o parlamentar mantém atritos com o prefeito e integrantes do Executivo há alguns meses. Por isso, anunciou que segue seu caminho de forma “independente” a partir de agora — e por enquanto.
— Venho anunciar, depois de três anos compondo o Governo Adiló, tentando trazer o melhor resultado para a população, para a comunidade, que a partir de hoje (dia 6) estou me tornando independente no meu mandato. Hoje, estou fazendo minha caminhada independente, e o futuro vai nos trazer com certeza outros caminhos a seguir.
Os “caminhos” aos quais se referiu Bressan devem ser a frente dos partidos da direita. Ele tem convites de pelo menos três das quatro siglas que compõem a aliança, e a tendência é que opte pela filiação ao Progressistas, partido presidido pelo vereador Alexandre Bortoluz — é o mesmo destino que deve ser escolhido pela vereadora Gladis Frizzo (que deve ser o nome para concorrer a vice ao lado de Scalco) e pelo vereador Olmir Cadore (PSDB).