O debate em torno da instalação de uma universidade federal em Caxias do Sul, a Universidade Federal do Nordeste Gaúcho, na sessão de quinta-feira (10/8) da Câmara, ganhou contornos especulativos e até de desconstituição da proposta. Falou-se bastante em “ilusão” e até em “elefante branco”. Uma péssima arrancada do debate para um tema em torno de uma demanda que merece toda atenção e adesão da comunidade regional.
A vereadora Rose Frigeri (PT) trouxe o assunto, propondo a criação de uma Frente Parlamentar em Defesa da Universidade Federal da Região Nordeste. Imaginou que conseguir 22 assinaturas para abrir a frente seria tranquilo – só o presidente da Casa não assina. Não é bem assim. O vereador Rafael Bueno (PDT) que presidiu a frente parlamentar anterior em torno do assunto por sete anos, instalou uma diferença logo de saída:
– Não precisa criação, é só a reinstalação da Frente Parlamentar pela Universidade Federal da Serra Gaúcha.
Não importa se criada ou reinstalada, a frente parlamentar é imprescindível para fins de encorpar uma mobilização, e não cabe uma diferença em torno de um pormenor assim. Mas Bueno foi mais além: recuperou justificativa de que ensino federal já existe em Caxias e chegou a qualificar uma eventual estrutura para receber uma universidade federal de “elefante branco”;
– Hoje eu tenho um outro entendimento de universidade pública. A Universidade de Caxias do Sul (a UCS), na sua maioria hoje são bolsas do ProUni e bolsas de filantropia. Nós temos ensino federal em Caxias do Sul e bolsas federais. Será que vale a pena criar um elefante branco do zero se a gente pode otimizar a Universidade de Caxias do Sul, (usando os) espaços ociosos que tem hoje?
O argumento de que Caxias já tem ensino superior federal fere a essência da importância de uma universidade pública. Bueno refere-se às bolsas da UCS, ao Instituto Federal e até a Uergs. Esses caminhos não oferecem alternativa para o filho e a filha dos trabalhadores que têm a legítima pretensão de cursar Medicina, por exemplo. Os empurram para a universidade paga, para uma bolsa incerta ou outro município onde exista a alternativa gratuita, com gastos de moradia. Sem falar na importância de uma universidade federal para o desenvolvimento regional e o estímulo à pesquisa, ciência e conhecimento.
Começou mal a mobilização pela universidade federal. A comunidade regional precisa ter unidade em torno da importância da universidade gratuita. Essa unidade parte de uma base bem fragilizada.
"Será de acesso gratuito"
O argumento de que há bolsas de ensino e de que o ensino superior gratuito já é suprido em Caxias pelo Instituto Federal e pela Uergs é recorrente. Ele está de volta e desmobiliza para o essencial: o acesso gratuito aos filhos e filhas de trabalhadores a cursos importantes e tradicionais.
A vereadora Estela Balardin (PT) fez o contraponto:
– Otimizar o dinheiro público é investir naquilo que é nosso. Quando investe numa universidade particular, não está investindo no que é nosso. (Uma universidade federal) Será de acesso gratuito, será da população. Importante para o desenvolvimento da região – defendeu ela.
"A gente não pode iludir"
Referindo-se às mobilizações de que participou por uma universidade federal na região, Bueno reiterou:
– A gente não pode engambelar, iludir, criar uma expectativa na população. Tem de ver se o governo federal quer trazer um campus ou a criação de um polo.
O governo federal pode cogitar trazer se a comunidade, unida, se mobilizar. Já o vereador Maurício Scalco (ainda no Novo) entende que é preciso “otimizar o uso do dinheiro público”. Sugeriu “comprar vouchers” (vagas na UCS):
– Por que não botar dinheiro federal na UCS, que já tem a estrutura? – questionou.
"Não é uma ilusão"
A vereadora Rose Frigeri (PT), que introduziu o debate, defende que a luta por uma universidade federal para Caxias do Sul deve ser iniciada:
– Nós queremos fazer essa luta, iniciar esse debate. Por que a nossa região, com o PIB elevado, com a importância que tem, não merece uma universidade federal? A gente está propondo uma luta. Se a coisa vai acontecer ou não, isso só o encaminhamento vai dizer. Não é uma ilusão, porque ninguém vai sair dizendo que vai sair uma universidade na região. Mas, se não tiver essa luta, com certeza não vai vir.