Lembranças são como brisas no meio da correria. Como agora, no meio dos embates eleitorais. Esta semana, lembrei-me das Cinco Marias, instigado pelo calendário, que nos apresentou o Dia das Crianças. Doce lembrança! As Cinco Marias eram – à época em que foi minha vez de ser criança – um jogo, uma brincadeira infantil, que promovia a interação e a convivência. Hoje, muita gente não conhece essa brincadeira imaginosa. Cinco Marias eram cinco pedrinhas de tamanho e formato aproximados. Com o passar dos anos, elas começaram a ser substituídas por pequenos saquinhos de pano com algum enchimento, em formato semelhante.
No colégio, brincávamos com pedrinhas. Jogávamos em duplas, em grupos de quatro crianças, meninos e meninas, no pátio do colégio, o então chamado Grupo Escolar Demétrio Ribeiro, uma escola estadual de qualidade em Alegrete, antes de começarem as aulas no turno da tarde. Inesquecível. Aquilo era 1970, quinta série do antigo primário, hoje Ensino Fundamental. A gente chegava para a aula e era recepcionado pelos colegas, sentados no chão no pátio coberto da escola, concentrados no jogo. Aquela imagem guardo muito bem, era sensacional. Uma memória emocionante.
O jogo era engenhoso. Lançavam-se as cinco pedrinhas ao chão e pegava-se uma. Essa era jogada para cima e, enquanto subia, iam sendo retiradas, ou recolhidas, as pedras que estavam no chão, abaralhando, sem deixar cair, a pedra jogada para o alto. Na primeira etapa, retiravam-se as pedras uma de cada vez, com a pedra jogada ao alto quatro vezes. Na segunda, as pedras eram recolhidas duas a duas. Ia ficando difícil. Depois, recolhiam-se três pedras e, em um segundo movimento, a pedra restante. Na quarta etapa, era preciso recolher todas as quatro pedras que estavam no chão, enquanto a outra subia e descia. Sem deixar cair no chão. Se caísse, o jogador perdia a vez. Por fim, havia a etapa final, que chamávamos de “ponte”. Consistia em um posicionamento dos dedos como em uma trave do futebol, com o dedo indicador passando por cima do dedo médio. As pedras eram jogadas ao chão e o jogador adversário indicava a “primeira” e a “última” que deveriam entrar na ponte, o que deveria ser feito com a outra mão pelo jogador sem que uma pedra tocasse na outra, enquanto a pedra original subia e descia. A cada ponte completada, marcava-se com um risco de pedra no chão a tarefa realizada, e assim o jogo seguia, até o número de pontes da partida.
O detalhe é o jogo jogado no pátio da escola, de forma espontânea, pois era uma diversão. Esse detalhe do cenário para brincar de Cinco Marias, no ambiente escolar, remete a outra lembrança. Era um tempo em que professores eram valorizados. Hoje, sociedade, governos e muitos pais, apesar de todos os discursos, não valorizam os professores. Não adianta negar. O dia em que voltarem a ser valorizados como devem, como era no tempo das Cinco Marias, esse país, enfim, começará a mudar para melhor. Fica o reconhecimento e o abraço da coluna aos professores no dia deles. Vocês são heróis.