Tenho verdadeira ojeriza por quem desmerece o empreendedorismo ou usa o termo “empreendedor” de forma sarcástica. Pior ainda é a claque que reproduz um discurso ultrapassado de que todo empresário é explorador de mão de obra do trabalhador e que tem a vida fácil. Fácil? Será mesmo? Nem vou entrar em detalhes a respeito da altíssima carga tributária que beira à extorsão, tampouco vou me deter nos desmandos e nas injustiças que acontecem dentro das cortes. Vou é falar do trabalho que ninguém vê, nem reconhece e, consequentemente, não valoriza.
Domingo de manhã durante minha caminhada presenciei duas cenas que mostram um pouco do que é a vida real de um pequeno empresário. De longe, vi um casal que há tempos trabalha no ramo de academias e equipamentos de musculação. Ambos estavam descarregando de uma caminhonete algum tipo de máquina ou peças, os dois se ajudando, se apoiando, fazendo aquele esforço a mais totalmente essencial para os ousados que ainda insistem em investir num país como o nosso.
Logo adiante, passei na frente de uma loja, e uma das proprietárias estava chegando para trabalhar. Quem tem comércio sabe quanta coisa fica pendente depois de um sábado de vendas e que não pode esperar até a segunda para resolver, como arrumar, limpar, organizar. Brinquei com ela, usando um daqueles clichês: “Cuidado que vão dizer que é sorte”. Ela sorriu e concordou com a cabeça. O sucesso fruto do esforço quase sempre é creditado apenas a um rolar de dados do universo, quando sabemos que no empreendedorismo nunca é assim.
Quem me acompanha neste espaço sabe o quanto critico a mentalidade propagada por falsos gurus que repetem “Trabalhe enquanto eles dormem” ou “Estude enquanto eles vão para a balada”. Chegam a dar vergonha alheia aqueles cards com imagens de leão em preto e branco. O descanso e a diversão são uma necessidade para não enlouquecermos ou adoecermos. Esse tipo de ideia de autoexploração constante beira o masoquismo, e a ambição desmedida pode custar muito caro, destruir um casamento, afastar familiares e amigos.
Contudo, às vezes, se um sonho, um projeto ou um plano exigir de nós aquele esforço a mais, não há mal nenhum nisso. Acordar uma hora mais cedo, dormir um pouco mais tarde, aproveitar o final de semana para dar um passo adiante em direção aos seus objetivos são atitudes louváveis desde que haja equilíbrio. Para empreendedores, o trabalho árduo é praticamente um requisito básico para se manter no jogo. Para profissionais em geral, é a diferença entre ser só mais um e ser um talento valorizado.
O mais difícil é saber que muito desse trabalho nos bastidores de um domingo de manhã nunca será reconhecido. Mas, tudo bem: alguém vai ver, valorizar e até se inspirar pelo seu esforço e pela sua garra. E se ninguém reconhecer, se dê um tapinha nas costas: muitas vezes só precisamos realmente do nosso próprio reconhecimento e da certeza de estarmos fazendo a coisa certa.