Palestras, vídeos e publicações especializadas em mercado de trabalho falam com frequência de “empregabilidade”, ou seja, a capacidade de um indivíduo ser empregado e progredir na carreira. Contudo, percebo que os especialistas pouco falam de atratividade, ou seja, a capacidade de uma empresa em atrair futuros funcionários e reter talentos.
Converse com qualquer empresário ou gestor de grandes ou pequenos negócios e certamente uma de suas maiores preocupações tem a ver com os inúmeros cartazes de “Contrata-se” sem qualquer resposta. Há lojas e bares que há meses buscam funcionários e não encontram, há empresas que tiveram queda da produção porque falta mão de obra. Há vagas, mas não há interessados. O que está acontecendo?
Quase sempre, dizem que “ninguém mais quer trabalhar” ou que “muitos preferem viver de auxílio do governo”. Não é bem assim. Embora realmente haja uma parcela da população que se conforma com migalhas estatais ou que simplesmente não quer fazer nada (já falei deste assunto numa coluna em 2021 chamada “A Geração dos Deitados”, disponível na plataforma online), acredito que muitos gestores subestimam o conceito de atratividade. Na verdade, muitas empresas o encaram de forma bastante equivocada, não fazem a leitura correta do que seria atrativo em sua cultura organizacional do ponto de vista do empregado e dos talentos que gostaria de contratar e reter.
Este equívoco, em primeiríssimo lugar, tem a ver com o choque de gerações. Se no passado, o fator “salário” ditava o interesse por uma vaga, para os jovens de hoje o dinheiro recebido em troca de sua dedicação e de seu tempo não é o mais importante. Sem dúvida, quase todo mundo maior de 18 e menor de 35 anos dá mais valor para flexibilidade de horário, benefícios, oportunidades de desenvolvimento pessoal e também para um fator subestimado que vou chamar de “fator gente fina” no ambiente de trabalho.
Há pouco estive numa cafeteria, e uma das funcionárias chamou minha atenção. Entre atender clientes, explicar o cardápio, cobrar no caixa e limpar mesas, fazia todo seu trabalho com zelo e competência, sem perder o sorriso no rosto nem a eficiência, mesmo num sábado à tarde, horário detestado pela maioria dos jovens. Por que essa garota claramente diferenciada estava trabalhando naquele local em vez de outro? A resposta sutil talvez estivesse na garrafa térmica e nos copinhos sobre uma mesinha junto à porta, do lado de fora, com os seguintes dizeres: “Motoboy, aqui tem um café quentinho para você”.
Uma empresa que faz um gesto de gentileza desses com os motoboys — terceirizados, que nem seus funcionários são — talvez seja também muito cordial e gentil com sua equipe. E isso faz grande diferença. Dá uma pista de por que aquela garota estava trabalhando lá e não em outros inúmeros cafés, bares e restaurantes que também precisavam dela naquele mesmo horário e talvez até com um salário maior.