Tempos atrás, assisti a uma reportagem da BBC internacional que mais parecia um esquete cômico: jovens europeus de 20 poucos anos, no conforto de sua vidinha numa país de Primeiro Mundo e acadêmicos de renomadas universidades, alegavam sofrer de “ecoansiedade”. Saudáveis e bem-nascidos, diziam não conseguir trabalhar, nem estudar, nem sair do quarto por causa do “aquecimento global” e de um “iminente” fim dos tempos.
Esses mesmos jovens tão distantes das dificuldades reais do mundo real, e com excesso de soberba e de tempo ocioso, compõem a maioria dos tais “ecoativistas”. Protestam contra a indústria de combustíveis fósseis bloqueando rodovias e interrompendo o trânsito, invadem galerias de arte e museus vandalizando o acervo para chamar a atenção da mídia num espetáculo para as redes sociais. A preocupação deles é legítima, mas há toda uma atitude hipócrita demais nessas atitudes e em seus discursos vazios.
Todos esses jovens usam smartphones e patinetes elétricos cujas baterias são altamente poluentes. Suas roupas, calçados e acessórios de marcas descoladas são produzidos basicamente usando materiais feitos de petróleo. Dizem se preocupar com o futuro da humanidade, mas não se importam em prejudicar seus concidadãos ao bloquear o tráfego em horário de pico. Afirmam valorizar a cultura e as ciências humanas, mas colocam em risco verdadeiros patrimônios culturais e históricos da humanidade. Enfim, é uma parcela da juventude tosca, burra, cheia de energia para ações inócuas, mas totalmente apática na hora de canalizar essa preocupação e essa revolta fazendo algo que realmente pudesse tornar o mundo um lugar melhor.
Quem deveria sofrer de ecoansiedade — e sofre — são os pequenos agricultores, que a cada nuvem escura e assustadora que surge no horizonte significa a possibilidade de perder um ano inteiro de trabalho. Foi o que aconteceu com dezenas de famílias produtoras de uva dias atrás durante mais um temporal. Mas diante da inclemência dos céus, há espaço para o melhor do ser humano, como pude constatar numa postagem de um jovem conhecido no Facebook: ele convocava vizinhos, parentes e amigos para ajudar um agricultor a reerguer o parreiral que havia caído com a ventania.
Em vez de ficar querendo aparecer dando entrevista no conforto de seu quarto para falar de mais um suposto transtorno mental moderninho autodiagnosticado só para chamar a atenção, este jovem ajudou o seu próximo. No momento, é tudo o que podemos fazer diante da força implacável do clima e dos estragos causados por anos de irresponsabilidade generalizada de nós, seres humanos, com relação à natureza. Precisamos sim cortar emissões de carbono, produzir menos lixo, depender menos de energias poluentes e promover o uso de energias mais limpas. Mas isso não vai acontecer com mimimi na frente dos holofotes e hipocrisia. Para variar, são tempos de muito discurso e falação, e pouco comprometimento real com a causa que dizem defender.