As imagens assustam e revelam a fragilidade das estruturas diante da violência das águas, dos ventos e do fogo. Se em setembro a força das enchentes levou embora casas, escolas, ruas inteiras, um vendaval recente fez desabar a bela exposição sobre Van Gogh em Caxias do Sul, e há poucos dias um incêndio devastador consumiu uma parada tradicional e muito querida por todos que trafegam pela Rota do Sol.
O que levou muito tempo para ser projetado e construído, em poucos minutos desapareceu e nos leva a refletir sobre nossa impotência diante do que inegavelmente é tão mais forte do que nós. Garantir a força e a resistência de uma estrutura requer planejamento, organização, responsabilidade na seleção de bons materiais, sólidos e confiáveis, além de critério na escolha dos elementos de ligação e de conexão que mantenham tudo coeso, equilibrado e flexível o suficiente para não ceder a abalos logo nos primeiros atritos. Há que se antever possíveis contratempos, refletir sobre o local onde se ergue a estrutura e os possíveis e prováveis perigos que ela terá de enfrentar para garantir a segurança de todos criando mecanismos de prevenção, defesa e de proteção.
Na verdade, levo essa reflexão ainda mais longe: não são só construções e prédios que nos abrigam, mas também nós mesmos constituímos uma estrutura. Nossos corpos frágeis abrigam nossa existência, nossa alma. Nosso colo e nosso ombro abrigam familiares, amigos, colegas de trabalho e até mesmo desconhecidos que contam com um porto seguro ou uma mão estendida num momento de necessidade. Vários indivíduos unidos por laços de sangue e de afeto formam uma estrutura importantíssima, a família, e a união de várias famílias forma uma comunidade, e assim se criam diferentes modos de abrigar cada um de nós e todos nós ao mesmo tempo.
No final de mais um ano, acredito que cabe muito bem refletirmos como estamos cuidando dessas estruturas primordiais que tornam viável a vida em sociedade. No momento em que um crime fica impune, em que uma vítima não tem a quem recorrer, em que um filho não encontra nos pais educação e proteção, em que falta uma rede de apoio a uma mãe, todas essas situações constituem mais uma rachadura na já frágil estrutura sob a qual nos abrigamos. Quando assistimos incrédulos a mais uma guerra e a mais um território arrasado por desavenças que perduram por décadas, até mesmo séculos, trata-se de um lembrete do que acontece com o tecido social quando se descuida de cada um dos elementos que tornam forte e segura sua estrutura.
Que elementos são esses? Cuidado, trabalho, compaixão, solidariedade, respeito ao próximo, empatia e propósito. Que em 2024 saibamos preservar e fortalecer as estruturas que nos abrigam, literal e figurativamente. Dependemos disso para prosperarmos enquanto indivíduos, enquanto famílias, enquanto sociedade e vivermos em harmonia e felicidade.