Outro dia, me deparei com uma mensagem em inglês onde se lia It’s corageous to choose to rest, que pode ser traduzido como “É corajoso escolher descansar”. Vivendo numa época em que ser altamente produtivo e parecer estar sempre ocupado tornou-se símbolo de status, realmente parece um ato de coragem simplesmente parar e não fazer absolutamente nada.
Muita gente agora vai entrar em recesso ou terá férias coletivas na sua empresa com muitos planos para “aproveitar” este período. Observo que várias pessoas consideram que seria frustrante simplesmente não fazer nada nesses dias entre o feriado de Natal e o Ano Novo, por isso enchem o calendário de festas, jantares, viagens, passeios, “experiências”. Certamente, o descanso é um conceito que varia demais de indivíduo para indivíduo: enquanto uns preferem uma rede e um livro, outros preferem um churrasco com música alta regado a muita cerveja e muitos amigos “para descansar a cabeça”.
Contudo, há vários estudos que comprovam o poder dos momentos de completa ociosidade, de contemplação, de silêncio e de repouso para clarear as ideias, reforçar a imunidade do organismo e restaurar as energias. Ano passado, nos meses de novembro e dezembro, eu estava completamente exausta. Estava no meio de um projeto de trabalho imenso que acabou tomando a minha a agenda de tal forma que prejudicou o andamento de várias outras atividades que exerço. Na verdade, faço aqui um mea culpa: por excesso de autoconfiança em saber trabalhar sob pressão, fui deixando algumas coisas acumularem até o ponto de trabalhar 14 horas por dia durante semanas. Isso não é saudável.
Consegui entregar o tal projeto — que, ainda bem, foi bem-sucedido —, mas no meio daquele cansaço todo tomei várias decisões equivocadas porque eu simplesmente não tinha clareza mental para analisar dados e informações adequadamente. Me faltou análise crítica para avaliar fatos e acabei confiando sem refletir muito bem no parecer equivocado de certas pessoas. Resultado: decisões que tomei no final de 2022 absolutamente cansada, com a minha mente e as minhas emoções turvas como as águas de um rio agitado, resultaram em vários problemas neste ano de 2023.
Ainda bem que uma das qualidades que tenho é aprender com meus próprios erros: às vezes demoro um pouco, mas aprendo. E uma das coisas que aprendi foi jamais tomar qualquer decisão importante sem primeiro tirar uns dias para descansar, me livrar daquele estado de urgência e de pressão. Aprendi a me planejar um pouco melhor para não deixar nada pendente nas minhas férias e poder escolher o descanso. Não há demérito algum em ficar sem fazer nada por uma ou duas semanas. Não é preguiça, não é desleixo, não é ser antissocial: é se respeitar e se cuidar acima de tudo. Buscar a leveza na mente e no coração por meio do descanso não é apenas coragem, é um ato de bondade consigo mesmo.
*Gostaria de desejar um feliz e abençoado Natal a todos os meus leitores e às minhas leitoras, e agradecer todas as mensagens e e-mails que recebi ao longo deste ano. Obrigada por tudo!*