Uma das atitudes mais elitizantes que existe hoje no mundo é dificultar o acesso à informação. Parece proposital o uso de uma linguagem incompreensível ou meios mais complicados para se passar uma informação. Quando a população falha em se manter informada – ou até se informa, mas não consegue interpretar o que escuta, o que assiste ou o que lê – a culpa é somente do cidadão comum?
Nesta semana, um colega me contou a seguinte história que pode exemplificar isso. Chegando ao aeroporto no Rio de Janeiro, ele pegou um transporte de aplicativo e começou a conversar com o motorista. Durante o bate-papo, o motorista mencionou que nunca tinha viajado de avião e que era um sonho dele. Meu colega então perguntou quanto ele achava que custava uma passagem de avião de Porto Alegre ao Rio de Janeiro. O rapaz respondeu: “Uns R$ 6 mil”. Então esse meu colega disse que a passagem havia custado bem menos, cerca de R$ 450, e mostrou como se compra no site ou no app da companhia aérea, explicou que dava para parcelar e deu outras informações úteis. Depois enviou a seguinte mensagem para mim: “Infelizmente, as pessoas não acessam as informações e acham que algumas coisas não são pra elas, né?”
Lembrei da época em que comecei a dar aulas de inglês no turno da noite numa escola pública aqui da minha cidade, em 1995. Cheguei na sala do 1º ano do Ensino Médio toda animada já dizendo “Hello!” para a turma, quando uma menina me olhou toda desconfiada e resmungou: “Pra que aprender inglês? Eu nunca vou viajar para os Estados Unidos!”. Não sei como tive o discernimento na hora de explicar para a garota que a língua inglesa já estava entre nós, que não precisávamos sair do Brasil para termos uma máquina importada numa empresa ou um manual de instruções para ler, ou até poder cantar direitinho a letra de uma música de que ela gostava. Foi uma das melhores alunas que tive naquele ano.
Mas antes, na cabeça daquela garota, inglês era coisa de “riquinho”. Na cabeça do motorista de aplicativo, viajar de avião “não era para ele”. Esse tipo de pensamento se cria numa zona nebulosa gerada pela falta de acesso a uma realidade que parece muito distante, quando na verdade está mais ao alcance da população do que lhe foi permitido acreditar. Como meu colega concluiu em seu relato sobre o bate-papo no Rio de Janeiro: “Essa sensação de não poder impede a gente de ter experiências muito transformadoras”.
Por isso sempre fico muito desapontada com políticos, doutores, cientistas, formadores de opinião, “top voices do Linkedin” e “futuristas” que usam uma linguagem muito rebuscada e complexa. Pior: estão a toda hora decretando a “morte” de determinado meio de comunicação mais popular e tentando impulsionar outras plataformas. No fundo, esse pessoal quer apenas dificultar o acesso para se manterem num patamar mais elevado de falsa superioridade e continuar eternamente dialogando apenas com outros membros de sua bolha. Até porque, se saírem da bolha, a máscara cai.