Antigamente, copiar era uma carreira nobre: os copistas trabalhavam nos scriptoria dentro dos monastérios copiando livros, tratados e documentos. Tiveram grande importância histórica, já que seu trabalho possibilitou que o conhecimento dos antigos chegasse até nossos dias antes da invenção e da popularização da imprensa. Como se tratava de um esforço meramente manual, sem a necessidade de ser criativo ou de demonstrar grandes habilidades intelectuais, a tarefa de copiar logo foi assumida por uma máquina e assim o é até os dias de hoje.
Por isso fico pasma quando hoje se veem por aí tantos profissionais nas mais diversas áreas de atuação se entregando à indigna tarefa de copiar o trabalho dos outros fingindo que é fruto seu. Chego a sentir vergonha alheia quando me deparo com algo assim – e não pensem que é difícil identificar quem é realmente original e quem é apenas um pirata pilhando a riqueza intelectual e criativa de outra pessoa. Basta um clique e encontramos a fonte original, talvez com menos seguidores, talvez menos popular, mas real e verdadeira. O copiador – ou “kibador”, como dizem nas redes sociais – pode até passar impune, mas por trás dessa atitude antiética e moralmente condenável há claramente muita incompetência e insegurança.
A meu ver, todo copiador não passa de um covarde. É o tipo de pessoa que não tem coragem de expor suas próprias ideias e colocá-las em prática, preferindo usar alguma ideia já testada de fonte bem avaliada, mesmo que não seja muito conhecida. O copiador também é um preguiçoso sem grandes dons, porque criar, testar, pensar, refletir, apagar e refazer do zero são parte de um processo que dá muito trabalho, que exige muito suor e, obviamente, muito talento. No fundo a cópia nada mais é do que uma confissão da incapacidade dessa pessoa quanto à sua irrelevância: quem copia é um plagiador ou, no máximo, um embalador que pega uma ideia alheia e a embrulha num papel mais vistoso ou aplica uma fitinha decorativa.
Todo profissional que já sofreu algum tipo de plágio ou teve que encarar a desfaçatez do copiador apresentando como se fosse dele sem fazer qualquer referência à fonte entende o que estou falando. Num primeiro momento, o sangue ferve, dá vontade de tirar satisfação, de passar a história toda a limpo, de denunciar o plagiador publicamente. Contudo, a meu ver, tal desgaste simplesmente não vale a pena. Como dizem os sábios estoicos, nossa tarefa neste mundo é cuidar do que nos cabe e do que está sob nosso controle.
A energia que seria desperdiçada confrontando o copiador pode ser melhor direcionada para novas ideias, novos insights. Só é copiado quem se destaca pela competência. Novas ideias surgirão, novos projetos serão criados, tudo é questão de tempo. E o copiador que fique com as migalhas do que se torna obsoleto num piscar de olhos: enquanto ele faz o serviço meramente braçal de copiar, quem cria já está lá na frente, inalcançável.