Às vezes fico pensando se as notícias ruins nos impactam mais quando estamos passando por momentos difíceis, ou se são os momentos difíceis que se tornam ainda mais duros justamente quando ficamos expostos a tantas tragédias no noticiário.
As últimas semanas têm trazido coberturas jornalísticas que nenhum profissional gostaria de ter de informar. Entre a professora que morreu esfaqueada numa escola em São Paulo e as criancinhas mortas a machadadas na creche em Santa Catarina, duvido que uma única alma neste país não tenha sentido profunda tristeza e desesperança. Ficamos todos perplexos nos perguntando: como chegamos a esse ponto? Entre um palpite furado, um discurso ideológico inócuo e uma maldição religiosa sem cabimento, restam atônitos os sensatos em busca de uma resposta que talvez nunca chegue para explicar a causa dessas barbáries.
Além disso, o noticiário internacional fala há meses da disputa entre potências mundiais numa espécie de nova Guerra Fria. Países longínquos como Ucrânia e Taiwan provavelmente não fazem parte das preocupações do cidadão brasileiro comum, mas quando representantes do nosso governo visitam Rússia e China em meio a um possível conflito com a Europa e os Estados Unidos, todos nós deveríamos prestar mais atenção ao que realmente está em jogo.
Some-se a tudo isso mais um aumento de impostos, declarações controversas por parte de membros do governo, indefinições sobre o futuro da educação, demissões em massa e uma inflação preocupante, e a realidade acaba pesando demais sobre os nossos ombros. Além do que vivenciamos coletivamente, cada pessoa enfrenta as particularidades de seus próprios conflitos, desafios, angústias e temores. Chegar à Semana Santa com tudo isso dentro do coração e da mente que mal tiveram tempo de se recompor depois de uma pandemia acaba gerando um estresse emocional com o qual pouquíssimas pessoas conseguem lidar sem desabar ou sem vestir uma pesada armadura.
Mas a resiliência que restaura nosso espírito quase sempre vem de onde menos se espera. Lá estava eu chegando a um supermercado lotado no sábado, a cabeça a mil cheia de preocupações e com o peso de tudo que relatei acima. Até que, na porta do mercado, avistei um cachorrinho pequeno, um vira-lata mistura de cocker spaniel e linguicinha. Ele estava de gravata azul, o pelo lustroso, o olhar altivo. E então me desarmei: tive que sorrir diante da cena, e meu coração se encheu de um sentimento bom. Depois, quando me dirigi ao caixa, lá estava o cãozinho numa das filas imensas, todo comportado, ao lado do dono, um senhor bem simpático que me contou como adotou o bichinho ainda filhote, que o nome do cachorrinho era Max e que ele “só faltava falar”.
São as pequenas belezas singelas do cotidiano que não curam todas as feridas do mundo, mas que nos dão aquele empurrãozinho extra para seguir em frente e saber que ainda há mais bem do que mal nessa existência.