Entre as inúmeras aberrações que se popularizaram nas redes sociais estão os tais “mentores de finanças”. Em vez de promover real educação financeira, enchem seus perfis de vídeos que misturam uma pregação quase messiânica, promessas vãs de prosperidade e de enriquecimento rápido, frases de efeito sem conteúdo algum e, pior, total desconexão com a vida real.
Um desses “coaches de prosperidade” publicou uma pergunta aparentemente inofensiva: “Que patrimônio você acha aceitável para alguém com 21 anos?”. Por trás da casual caixinha de perguntas, há o método perverso de gerar culpa nos jovens em início de carreira, capturar sua atenção, seduzi-los com a possibilidade de se tornarem “ricos e finos” antes dos 30 anos. Vendem cursos online, e-books e mentorias caríssimas que oferecem falsas soluções para problemas verdadeiros. Além disso, esses gurus desviam o foco e drenam a energia (e os parcos recursos) de seus seguidores de forma criminosa: enfiam goela abaixo patacoadas de psicologia e de programação neurolinguística baratas e rituais que parecem saídos de uma seita em vez de promover um aprendizado realmente útil para a vida toda.
O único patrimônio que um jovem de 21 anos precisa ter acumulado ao longo de sua infância e de sua adolescência é o conhecimento, seja por meio de estudos e de leituras, seja por meio da experiência e da convivência com adultos responsáveis e comprometidos com as gerações futuras. Isso por si só nos blinda contra charlatões, armadilhas e ciladas que existem aos montes por aí. Acredito que pouco se fala em patrimônio imaterial com os jovens e o quanto isso é essencial quando se tem 20 e poucos anos. Ao final da adolescência, antes de ingressar no mercado de trabalho ou na universidade, ter um aparato intelectual e emocional bem construído, com possibilidade de desenvolvimento e de crescimento é estar preparado e bem equipado para os inúmeros desafios que serão encarados na fase adulta.
Um exemplo de patrimônio é ter fluência ou no mínimo nível intermediário numa língua estrangeira. Também é patrimônio conhecer outras culturas, outras comunidades, outras regiões, outros países, enfim sair de seu cercadinho para ampliar horizontes e adquirir outras lentes para compreender melhor seu próprio mundo e sua própria realidade. Faz parte de seu conjunto de bens imateriais fortalecer laços com familiares, amigos e colegas que te apoiam, e cortar as amarras que te prendem à gente tóxica.
Educar suas emoções para que a raiva, o medo, a frustração e a apatia não tenham papel ativo na tomada de decisões é patrimônio. Saber ouvir, aprender, recuar e avançar no momento certo também faz parte do seu patrimônio. Resumindo: o patrimônio imaterial adquirido na infância, na adolescência e na juventude é o que vai, mais tarde, trazer o patrimônio material, o conforto e a segurança na vida adulta e na velhice.