Quem convive com adolescentes sabe a angústia que chega com o Ensino Médio, principalmente no último ano de estudos. É pressão demais ter de tomar uma decisão aos 16, 17 anos que vai impactar talvez o resto de suas vidas. Esse quadro é agravado quando o jovem se depara com um funil estreito de escolhas – seja por parte das pré-concepções e expectativas da sociedade e dos próprios pais dos estudantes. Infelizmente, há muito tempo os adultos apresentam (ou impõem) aos jovens a falsa ideia de que, concluído o Ensino Médio, só uma vaga na universidade trará vantagens no futuro. E o pior: ainda existem crenças limitantes de que apenas médicos, engenheiros e advogados podem trazer orgulho e certa tranquilidade à família.
Por isso foi um alento encontrar uma matéria que realmente “dá a real”, digamos assim, sobre os inúmeros caminhos – alguns abertos, outros mais congestionados – que se abrem quando a escola termina e a vida adulta dá seu primeiro passo. A reportagem minuciosamente embasada da jornalista Juliana Bevilaqua para o Jornal Pioneiro e portal GZH publicada nesta semana apresenta as profissões que estão em alta nesse momento e como chegar até elas. Como a matéria alerta, as carreiras mais tradicionais, na verdade, estão beirando a saturação. E toda saturação leva a desemprego ou a subemprego, menor ganho salarial e piores condições de trabalho. O diploma universitário por si só há tempos não é garantia de nada.
Por outro lado, empresas ligadas ao setor de tecnologia estão desesperadas tentando encontrar mão de obra qualificada e sequer exigem formação acadêmica: muitas vezes um bom curso técnico em informática no currículo já é suficiente e dá conta do recado. Infelizmente, é raro que haja incentivo desde a infância para que linguagem de programação, por exemplo, seja uma opção não só viável, como desejável. Se perguntarem a uma criança pequena o que ela quer ser quando crescer, nenhuma vai responder “quero ser desenvolvedor de software”. Sequer conhece essa possibilidade.
A velocidade com que o mundo vem mudando desde a popularização da internet, do comércio digital, das redes sociais, dos games e do entretenimento via streaming criou um abismo quase intransponível entre a atual demanda de profissionais e nossa capacidade de formarmos e qualificarmos nossos jovens. É inegável que a carência no setor de tecnologia é consequência de uma cultura retrógrada perpetuada pelos adultos: valorizam demais caminhos congestionados, chegando a ignorar a vocação e as aptidões de suas crianças, porque pensam que o que dá status é ter “filho doutor”.
Sinceramente, status hoje é ter aquele filho ou aquela filha nerdola que ganha em dólar e trabalha remotamente para uma empresa estrangeira. Os caminhos estão todos abertos para esses jovens, ao passo que outras estradas estão praticamente bloqueadas ou levam a destinos estressantes e frustrantes.