Li vários comentários nas redes sociais criticando o uso do termo “meninos” para chamar os jogadores da Seleção Brasileira de futebol. Como se pode ainda chamar de “garotos” um time de marmanjos com média de idade de 28 anos, uma das seleções mais velhas participando da Copa do Mundo do Qatar? Por que infantilizar os atletas? Pior, por que há essa insistência em estender cada vez mais a duração da adolescência e da juventude e adiar ao máximo a fase adulta?
Parte da culpa, creiam, é das gerações mais velhas. Talvez para prolongarmos nossa própria juventude, tratamos quem nasceu depois de nós como “crianças”, como “jovens”, porque isso aparentemente adiaria o inadiável encontro com o envelhecimento. Enquanto tratarmos irmãos e primos mais jovens como adolescentes, mesmo que tenham quase 30 anos nas costas, temos a sensação de que não envelhecemos, de que nós mesmos ainda somos “jovens adultos”, mesmo que estejamos cada vez mais próximos da terceira idade.
Além disso, vivemos numa época em que a tecnologia e as interações sociais sofreram transformações profundas rápido demais. As gerações nascidas após 1980 – e principalmente a galera que já nasceu conectada depois da popularização da internet na virada do milênio – sem dúvida parecem muito mais aptas a lidar com esse novo mundo. Relegá-los a uma posição infantilizada parece resguardar um resquício de autoimportância e de dignidade em certos círculos de adultos: é aquele chefe sênior orgulhoso que desdenha do “guri cabeludinho da T.I.”, é aquela diretora de escola que debocha da “professorinha recém saída da faculdade”, é aquele supervisor que não delega responsabilidades a um time porque “só tem gurizada ali”. Chamar de “garotão” um homem feito de 30 anos não deixa de ser uma estratégia de reserva de mercado: enquanto ainda considerarem jovens demais os novos profissionais que vão chegando, seus chefes não se tornarão obsoletos.
Contudo, os próprios marmanjos e marmanjas de 30 anos parecem se sentir confortáveis sob o manto da juventude eterna, aproveitando as benesses da fase adulta – como a liberdade de ir e vir –, mas eximindo-se das responsabilidades inevitáveis de quem realmente chegou à maioridade. Trago um exemplo: segundo pesquisa recente da Harvard Business Review, apenas 34% dos jovens almejam cargos de liderança dentro das empresas onde trabalham. Especialistas justificam que isso tem a ver com a busca de maior equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, ou seja, impedir que a carreira passe a ocupar mais espaço no seu tempo livre. Mas obviamente não é só isso: quanto mais alto se sobe profissionalmente, mais responsabilidades são assumidas. E, convenhamos, ser responsável por decisões e atos, assumir riscos, reconhecer culpas e chamar para si o dever de fazer as coisas acontecerem é o mínimo que se espera de um adulto. Sinceramente, é muito mais cômodo ser só um “garoto”.