Neste Dia da Criança, pensei em relatar algumas cenas que testemunhei numa viagem recente durante as minhas férias. Nas ruas e nos parques, em restaurantes e museus, crianças felizes e bem-cuidadas contrastavam com outras menos afortunadas vítimas de adultos irresponsáveis, infantilizados e inaptos para a nobre tarefa de criar e educar um ser humano.
Mas em vez de falar de coisas tristes e revoltantes, me parece bem mais produtivo falar do que nos traz esperança. Para cada criança mal-cuidada, negligenciada e maltratada pela família e por vezes injustamente invisível para a sociedade e para as autoridades competentes, há muitas outras que recebem carinho, cuidados e amor de seus pais, avós, cuidadores e professores. E é sobre essas pessoas que quero falar nesta data especial.
Uma das coisas mais bonitas que vejo nessas minhas andanças são adultos que usam muito bem o seu tempo para explicar e desvendar o mundo aos pequenos. Seja um pai mostrando como se abastecem os aviões para o filho de nariz colado na vidraça do aeroporto, seja uma mãe apontando para o uso correto de um bebedouro, seja uma professora meiga e gentil conduzindo uma fileira de aluninhos pelas escadarias de um museu: a disposição de ser guia para a vida requer paciência, entendimento, empatia e muito amor.
Há inúmeras situações em que se consegue diferenciar muito bem quem realmente é apto para cuidar de uma criança e quem jamais deveria ter sido incumbido de tal tarefa. Vamos retornar ao aeroporto, talvez hoje o lugar em que a mistura de pressa, estresse, desconforto, ansiedade, falta de modos, comida ruim, burocracia e muitas outras condições incômodas acaba aflorando os piores comportamentos nas pessoas. Vi adultos puxando crianças pequenas pelo braço, socando uma mamadeira com Coca-Cola e salgadinho num bebê, pais mergulhados no celular enquanto a filha de pouco mais de três anos perambulava descalça no piso frio da sala de embarque.
A desesperança que testemunhar coisas assim me trouxe quase me levou ao desânimo total. Mas também vi uma mãezinha jovem, totalmente sozinha na mesma sala de embarque com um bebê fofo enorme. Ela retirou da bolsa térmica uma papinha caseira e alimentou a criança com toda calma do mundo, limpando a boquinha do filho com gestos delicados. O trabalho que deve ter dado fazer aquela comidinha e embalar tudo! Que alento ver essa moça naquela paz e naquela conexão amorosa com a criança, totalmente alheia ao tumulto que a cercava. O que desejo para esse Dia das Crianças é isto: que todas tenham perto de si um adulto para guiá-las, nutri-las e acalentá-las dando o melhor de si. O maior presente para uma criança é o tempo de qualidade que lhe damos, é desprender-se de si e das pequenices do egoísmo da vida adulta e entender o papel que nos cabe: criar o futuro.