Qualquer clube de futebol do mundo sabe que um dos pilares do sucesso financeiro e da conquista de títulos está nas categorias de base. Explico: um clube que forma seus próprios talentos – ou para aproveitar mais tarde em seu time titular ou para negociar e encher os cofres – garante as condições necessárias para se tornar vencedor, não só no esporte, mas nos negócios.
Os olheiros das categorias de base costumam viajar aos lugares mais remotos do país fazendo o que se costuma chamar de “peneirão”, ou seja, buscando identificar aquele diamante bruto que depois será lapidado pelos profissionais do departamento (treinadores, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, preparadores físicos, médicos, etc). Há clubes como o poderoso Barcelona que chegam a cruzar um oceano inteiro em busca dessas joias escondidas em algum campinho de várzea por aí. Foi assim que os olheiros contratados pelo clube espanhol encontraram nada mais nada menos que Messi, aos 13 anos, arrebentando no futebol de base do time da cidade de Rosario, na Argentina.
Uma coisa interessante sobre o adolescente Messi é que ele tinha sido esnobado pelos poderosos clubes de futebol argentinos por ser muito baixinho. O que o emissário do Barcelona fez foi enxergar o potencial do guri para muito além desse problema. Assinou um contrato – escrito à mão num guardanapo – com o pai de Messi se comprometendo a pagar um tratamento hormonal e corrigir os problemas de desenvolvimento físico do menino. O Barcelona arcou com todas as despesas médicas e, alguns anos depois, Messi assinou o contrato definitivo como atleta profissional do clube. O resto da história todos já sabem.
Enfim, trago essa história e a questão das categorias de base dos clubes para mostrar que poderíamos usar esses processos todos e formarmos os profissionais de ponta de que tanto precisamos aqui fora do mundo do futebol. Quantos “Messis” há por aí ignorados pelas empresas porque nunca tiveram acesso a algo que pudesse ajudá-los a desenvolverem seu potencial? Muitas empresas pagam muito caro por profissionais qualificados – e mais caro ainda por não encontrar tais profissionais – quando sairia bem mais em conta ajudar a desenvolver nossas crianças e adolescentes com bolsas de estudo e apoiando iniciativas educacionais.
Sabemos que o Estado, por si só, não faz o que deveria ser feito. Na verdade, a nossa categoria base – a Educação Infantil e o Ensino Fundamental – carece de recursos, de incentivo, de profissionalismo. Os “olheiros” nem chegam até lá. Quantos diamantes brutos estão dentro de nossas escolas só esperando uma oportunidade para serem lapidados? Centenas, milhares de jovens. Pouco adianta investir em quem já passou pela peneira e chegou aos trancos e barrancos à universidade ou a um curso técnico se lá na base os pequenos se encontram praticamente abandonados e negligenciados. Investir na base é crucial.