Setembro é o mês em que o Rio Grande do Sul celebra a cultura gaúcha e a Revolução Farroupilha. Quando tento explicar a quem não é daqui o motivo de festejarmos uma guerra perdida, busco o conceito de telurismo: a influência da natureza do solo naqueles que o habitam, na sua índole, nos seus costumes; acima de tudo, a relação profunda com o amor pela terra e a conexão que temos com o nosso chão.
Nesta semana, o Pioneiro publicou uma matéria sobre um tema que, a meu ver, já foi bem mais preocupante: o êxodo rural dos jovens e o desafio da sucessão no campo. Hoje, graças em muito à tecnologia e ao encurtamento das distâncias — não só espaciais, mas culturais com a hiperconectividade oferecida pela internet —, muitos filhos de agricultores (e até mesmo jovens criados na cidade grande) percebem o cultivo da terra de um modo muito mais atraente e promissor que há duas décadas.
Se antes havia uma sensação de certo isolamento no interior e no campo, hoje, por exemplo, um jovem enólogo pode estar em meio às suas parreiras na encosta do Rio das Antas conectado a um colega viticultor na longínqua Oceania. Este é o caso do enólogo Vagner Marchi, formado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Bento Gonçalves, com Mestrado em Ciências em Viticultura e Enologia (Vinifera EuroMaster) tendo estudado na França, Alemanha e Itália. Após ter trabalhado em vinícolas da Califórnia e da Austrália, Marchi retornou à Serra gaúcha para produzir espumantes e vinhos premiados.
A jovem Rafaela Meneguzzo decidiu se formar e empregar o conhecimento adquirido para melhorar os processos da propriedade rural da família. Desde pequena, acompanhava os pais no plantio do alho. Na adolescência, decidiu estudar Agronomia e uma das questões levantadas por Rafaela em suas pesquisas foi a necessidade de desenvolver novas ferramentas para a mecanização do plantio e de usar a tecnologia e a ciência em busca de mais produtividade e qualidade sem perder de vista todos os aspectos envolvidos com sustentabilidade e proteção do meio-ambiente.
Tanto Vagner quanto Rafaela estiveram recentemente participando de um painel chamado Trilhas Para o Futuro promovido pela CIC de São Marcos. O evento, totalmente gratuito, buscou apresentar a estudantes de 13 a 20 anos profissões, carreiras e negócios promissores e indicar os caminhos para exercer tais atividades. Os relatos do jovem enólogo e da jovem agrônoma, sem dúvida, ampliaram a percepção dos estudantes quanto às inúmeras possibilidades de sucesso e de realização profissional trabalhando com a terra, tendo a tecnologia e a ciência como aliadas. Acredito que esse amor que temos pelo nosso chão, pela transitoriedade das estações e das colheitas de certa forma é determinante também para a vocação do povo que aqui vive. É bonito ver que muitos jovens estão abraçando este chamado.