Hoje celebramos 200 anos da Independência do Brasil. Ainda me causa estranhamento que as comemorações tenham sido tão apagadas, para dizer o mínimo. Fora aquela coisa meio macabra do coração de Dom Pedro I circulando por aí, pouco se viu nas ruas e nas escolas sobre a data emblemática. Pensando bem, tudo anda meio estranho neste Brasil de 2022, talvez tão estranho quanto era em 1822 com suas conspirações palacianas entre a Coroa portuguesa e a Colônia na América do Sul.
Mas vou deixar a politicagem, as autoridades, os doutores, os senhores das altas cortes e as ratazanas todas de lado e vou comemorar o Sete de Setembro tratando de outro aspecto que talvez nos passe despercebido. O tanto de agruras que sofremos com nossos políticos é compensado pelas benesses nessa terra tão abençoada em vários aspectos. Gosto muito de geopolítica e leio muito sobre outros países. E nessas leituras – e quando retorno de alguma viagem ao Exterior – sempre penso como o Brasil é privilegiado por ser autossuficiente e independente no que mais importa: água e comida.
Dias atrás fiz uma viagem de carro de 600 km até a fronteira com o Uruguai, cruzei praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul de leste a oeste. Me senti de certa forma aliviada ao ver os campos prontos para o plantio ou prontos para a colheita, aqueles silos sendo abastecidos pelos caminhões. Vi propriedades imensas com equipamentos de última geração. Vi vinhedos, vinícolas e oliveiras. Também vi a pujança das pequenas propriedades de famílias de agricultores, apicultores, criadores de ovelhas, artesãos. Uma riqueza sem fim. Se conseguirmos driblar as secas sendo mais inteligentes no aproveitamento dos recursos hídricos e das chuvas, podemos garantir mais dois séculos de alimentos para o país – e também para o Exterior.
Há uma riqueza imensa inclusive no nosso povo. O brasileiro em geral é trabalhador, é interessado, é curioso, é inteligente, aprendeu a encarar os infortúnios com uma esperança quase inesgotável e uma boa dose de criatividade. Diante desse quadro tão positivo, por que, então, o Brasil parece nunca dar certo? Por que ainda não somos a grande potência que parece ser só destino e nunca realidade?
A nutricionista Natália Stedile costuma usar em seus vídeos (excelentes, por sinal) a frase “Tudo não terás” como um chamamento ao amadurecimento. Não tem como querer ser saudável e manter maus hábitos, portanto escolhas devem ser feitas. Acho que este é o caso do Brasil: nunca teremos tudo. A natureza é magnífica, o povo é batalhador, mas quem nos governa e nos tributa está bem longe de ser competente. A cada eleição parece que temos escolhas, mas aí assisto ao horário eleitoral gratuito e me dá um desespero. Uma vez eu ficava revoltada e indignada, mas agora só me conformo com o “Tudo não terás” e agradeço pela terra fértil e pelo clima agradável e pelas pessoas aqui do meu lado na trincheira.