A estupidez humana quase sempre me deixa chocada, mas nunca me surpreende, ainda mais quando se trata de jovens sendo imbecis porque lhes falta um mínimo de discernimento. A modinha da vez agora é se autodiagnosticar com algum tipo de transtorno ou doença mental para justificar comportamentos injustificáveis.
Meia dúzia de cliques no Google ou em alguma rede social, uma troca de mensagens descompromissada com outro indivíduo igualmente tolo, e voi lá: alguns adolescentes e jovens adultos passam a se diagnosticar com depressão, síndrome do pânico, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), ansiedade, e por aí vai. Nenhuma consulta médica, nenhuma consulta com psicólogos ou psicanalistas, apenas a irresponsabilidade de achar que certos traços de sua personalidade só se explicam por causa de algum problema de saúde mental que viu no TikTok.
Nem preciso começar a falar sobre o desserviço que essa atitude irresponsável presta a quem realmente sofre de algum tipo de transtorno mental. Por exemplo, ao banalizarem o uso da sigla TDAH para dar uma “justificativa” a atrasos, desorganização, preguiça, abuso de substâncias ilícitas, geram-se confusão e desinformação sobre um problema sério e que causa muito sofrimento ao portador de TDAH e também a seus familiares e amigos. O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade é um problema neurobiológico de origem genética que causa agitação e confusão ou fadiga extrema na pessoa por um motivo assustador: ela é incapaz de sair de processos de hiperfoco, age como uma máquina em moto-contínuo, ou seja, não consegue parar uma dada atividade nem mesmo para se alimentar ou ir ao banheiro. Resultado disso: o corpo entra em colapso.
Por isso é revoltante que haja tanta gente usando um falso diagnóstico de TDAH para chamar atenção ou escapar das cobranças normais de uma vida em sociedade. Dias atrás, o termo chegou a virar um dos tópicos mais comentados das redes sociais, numa assustadora torrente de desinformação. Confundem-se as consequências de não dormir direito, de passar o dia no TikTok, de maratonar horas e horas de Netflix comendo besteira com sintomas de um transtorno. Usar um autodiagnóstico de uma doença séria para mascarar o que não passa de permissividade, alienação e de embotamento autoinfligido é muito mau-caratismo.
Qualquer pessoa com um mínimo de ética acha terrível brincar com doença. É aceitável, por exemplo, mentir aos colegas de faculdade que está com uma úlcera para escapar de um trabalho em grupo? Óbvio que não. O mesmo vale para as questões de saúde mental: todas elas precisam de um diagnóstico e do acompanhamento de um profissional, médico ou psicólogo, para o devido encaminhamento para tratamento e uso de medicação. Qualquer coisa fora disso é brincadeira de péssimo gosto e demonstração clara e inequívoca de mau-caratismo.