O número ali no título da minha coluna é o resultado do cálculo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do que deveria ter sido o valor do salário mínimo no Brasil em dezembro de 2024. O piso real, como todo mundo sabe, é muito menor do que isso, chegando a cerca de R$ 1,5 mil.
Obviamente, um salário mínimo nesse valor de R$ 7.067,68 é inviável num país como o nosso por várias razões: haveria desemprego em massa, porque quase nenhuma empresa poderia arcar com esse custo na folha de pagamento; a já combalida previdência social brasileira não teria como pagar aposentados e pensionistas e iria à falência definitiva; os servidores públicos quebrariam os cofres dos governos nas esferas municipal, estadual e nacional; o Bolsa Família, então, simplesmente não existiria ou valeria menos do que uma migalha.
A lei que criou o salário mínimo é de 1938. O cálculo tem por princípio que o gasto com alimentação de um trabalhador não pode ser inferior ao valor de uma cesta básica e que o salário deve atender as necessidades de sua família (alimentação, saúde, educação, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social).
Levando em conta que uma cesta básica hoje em média fica em torno de R$ 800, uma família composta por dois adultos e duas crianças gastaria no mínimo R$ 2,4 mil só para suas três refeições ao dia. E, como já diziam os Titãs, “a gente não quer só comida”. As pessoas querem e precisam de dignidade.
Como todos sabem, nem sempre recebemos do Estado os devidos cuidados em saúde, educação, e muito menos segurança. Os impostos altíssimos que pagamos enquanto contribuintes não retornam para nós em bons serviços públicos, por isso muitas famílias precisam usar boa parte de sua renda para atender também essas necessidades além da alimentação e de moradia.
Pensando nisso, o salário mínimo de R$ 7.067,68 do cálculo do Dieese até seria pouco para que uma família tenha uma vida digna, o que dirá confortável, e com margem para manter uma reserva de emergência.
Todas as famílias têm o direito de viver além do sobreviver com um salário mínimo e sonham aumentar sua renda. E só há três meios para se ganhar dinheiro honestamente estando em boas condições de saúde física e mental: oportunidade, qualificação e trabalho. Benefícios assistenciais nunca vão dar conta de realmente ajudar um indivíduo a subir de vida, a almejar uma situação melhor para si e para os seus.
O Bolsa Família, por exemplo, sequer é indexado pelo salário mínimo, mas certamente fica muito, mas muito longe de fazer alguém realmente sair da pobreza. Quem se contenta em viver de benefício corre o sério risco de jamais chegar à renda ideal do Dieese que seria de R$ 7.067,68.
Um governo não consegue resolver isso no canetaço. O dinheiro do contribuinte não é infinito. Portanto, num futuro próximo, talvez vejamos que o valor do Bolsa Família, que hoje parece razoável, mal vai prover o pãozinho do café da manhã dos beneficiários. E aí? Como será?