Nem sempre tenho opinião formada sobre todos os assuntos que me despertam interesse. Contudo, a falta de um posicionamento e a demonstração de dúvida não deixam de ser uma forma de opinar, de dizer que faltam informações suficientes para avaliar com propriedade um tema bastante complexo.
Há algumas semanas começou o debate sobre a questão do quiet quiting. O termo em inglês já foi traduzido de diversas formas, mas pode ser compreendido como “desistência silenciosa”, e não necessariamente como “demissão silenciosa” como vem sendo erroneamente interpretado. No vídeo em questão, um jovem de 24 anos fala que não vê mais sentido em se dedicar tanto à sua profissão nem um objetivo concreto de fazer além do que lhe é solicitado no seu trabalho. O movimento prega fazer apenas o suficiente e aos poucos, sem alarde, adotar uma postura mais passiva e menos proativa na empresa.
Talvez um gestor veja esse jovem desmotivado e desiludido, adepto dessa “desistência silenciosa”, como um sabotador dentro de sua equipe: certamente quando alguém faz corpo mole, outros ficarão sobrecarregados para dar conta das demandas existentes num determinado projeto. Uma pessoa apática pode contaminar o ambiente de trabalho inteiro, não restam dúvidas quanto a isso. Mas a pergunta que não cala é: por que todos esses jovens andam tão desiludidos com sua atuação profissional e com suas próprias vidas?
Minha primeira reação quando li a respeito de quiet quiting foi “Lá vêm os millennials com mais uma desculpinha para serem apenas preguiçosos e folgados”. Creio que essa foi a reação de muitos da minha geração, os nascidos nos anos 1970, que passaram boa parte da juventude estudando, trabalhando, se esforçando em ganhar a vida e abrir caminho para conquistar o sonhado sucesso profissional, conforto e certa estabilidade financeira. Mas, convenhamos: os saudosos anos 1990 e a virada do milênio, o mundo antes do 11 de setembro, das redes sociais e da pandemia colocava diante de nossos olhos um futuro bem diferente do que aquele que hoje se impõe aos jovens.
Naquele tempo, o nosso presente, mesmo que exigisse de nós esforço, dedicação e seriedade, não era tão fugidio quanto hoje, muito menos tão inconstante. Imagino como é para um jovem de 20 e poucos anos estar numa faculdade ou num estágio e encontrar sentido e propósito em suas atividades. Vou trabalhar 40 horas semanais e chegar no final de semana para fazer o quê se estou exausto? Vale a pena fazer cinco anos de faculdade para ter uma profissão que não fará mais sentido quando finalmente eu estiver formado? Vou comprar um apartamento numa área que hoje é valorizada para daqui há quatro anos virar vizinha da cracolândia? Tudo parece muito incerto e instável para qualquer tipo de planejamento. Em tempos de pandemia, guerra e crise econômica em escala mundial, está difícil até mesmo para sonhar.