Tem sido muito interessante o debate em torno da possibilidade da sede social do Clube Juvenil sediar um centro de compras popular, e que foi noticiada aqui nesta coluna na última segunda-feira (27). Nas rodas de conversa ou nas redes sociais, diversos pontos foram levantados pelos favoráveis e pelos contrários, em um debate útil e importante, pois está ligado à melhoria do Centro de Caxias e à preservação do patrimônio histórico da cidade. Sem ficar em cima do muro, desde já quero dizer que acredito que esta proposta é, sim, uma boa ideia, e vou explicar o porquê.
Caxias do Sul tem um mau retrospecto de preservação de seu patrimônio histórico, especialmente de prédios. Na área central, uma grande quantidade de construções mais antigas, muitas com belas e detalhadas características arquitetônicas, foi derrubada, especialmente a partir da década de 1960, para dar lugar a uma sucessão de prédios parecidos e sem graça, mas de maior atrativo econômico. O Juvenil está ali, na esquina da Júlio com a Marquês do Herval, como um símbolo de resistência a este processo, e nos cabe encarar a realidade de forma pragmática, para evitar que ele acabe tendo o triste fim de outros.
E aí entra a questão central deste debate: um espaço como este precisa de ocupação. É ela que vai determinar a manutenção da estrutura e a preservação para o futuro. Um prédio sem uso é um convite para o vandalismo e a degradação, e quanto mais tempo ele ficar fechado, mais difícil será uma retomada para qualquer uso. Assim, acredito que uma proposta como esta, destinando o Juvenil para a instalação do camelódromo, precisa ser considerada, especialmente por não terem surgido, ao menos até agora, alternativas mais viáveis.
No debate público sobre o tema surgiram algumas contestações que flertavam até com o elitismo e o preconceito, pelo simples fato de se cogitar um centro comercial de cunho popular na outrora glamorosa sede social. Por óbvio, não vale nem a pena comentar muito sobre essas “opiniões". Houve também sugestões muito bem-intencionadas, como a implantação de livrarias, cafés ou centro cultural no Juvenil. Não tenho dúvidas de que qualquer uma dessas estruturas ficaria muito bem ali, até pelas características do prédio. No entanto, são opções que me parecem totalmente desligadas do contexto que vivemos.
As grandes livrarias (infelizmente) estão fechando, e espaços de grande porte não têm mais sido usados para este fim. Pela falta de interessados, essa opção morre precocemente. Quando à instalação de um centro cultural, é outra ação pouco provável, ainda mais se levarmos em conta que já temos a Maesa, com ampla área disponível para ser destinada a equipamentos culturais, e que não sai do chão justamente por falta de verbas. Entre as belas ideias e a colocação delas em prática, há um obstáculo chamado realidade.
Isso quer dizer que somente questões financeiras devem ser levadas em conta e se pode fazer qualquer coisa com o Juvenil? Óbvio que não. Como prédio tombado, há uma série de critérios que precisam ser respeitados, e um bom projeto pode dar conta de combinar preservação e uso comercial. Sem contar que resolveria dois problemas de uma vez, pois além de dar destinação ao edifício, ainda melhoraria o ambiente urbano da cidade, resolvendo a questão dos ambulantes. A preservação dele agora, inclusive, permitiria que usos mais "nobres", no futuro, em outro contexto econômico, pudessem ser implementados.
É importante salientar que ainda não há nada definido sobre a instalação do centro de comércio no Juvenil, pois isto é ainda uma proposta, e que pode não se concretizar. Mas o fato de já ter provocado debate é positivo, pois precisamos pensar sobre ocupações viáveis para os prédios históricos, pois só isso vai garantir a preservação deles. Por isso, defendo que seja seriamente avaliada essa proposta. O passado nos mostra que deixar essas áreas a esmo, à espera de algum projeto encantado, é a pior opção. Quem dera o antigo Cine Ópera, degradado pelo abandono e demolido após um incêndio, tivesse tido essa oportunidade.