Onde você estava há 30 anos? O que mudou na sua vida neste tempo? E o que não mudou? Nesta semana, com a ajuda do meu querido amigo Porthus Junior, tive a satisfação de recuperar nos arquivos do Pioneiro uma imagem que me fez viajar no tempo e pensar na vida.
Esta foto que está acima foi feita em 20 de novembro de 1994 pela fotógrafa Carla Pauletti, do Jornal Pioneiro. A imagem registra a festa da torcida do Juventude junto ao lendário centroavante Mário, no dia do acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, conquistado após uma vitória suada por 1 x 0 sobre o Americano e com o Estádio Alfredo Jaconi completamente lotado.
Eu tinha visto ela apenas uma vez e tinha achado legal, mas quando você é mais novo, tende a não dar muita bola para o passado. E aí a foto se perdeu. Porém, conforme a vida vai avançando, a pessoa passa (eu passei, ao menos) a ver minhas próprias vivências de forma mais apurada, buscando no passado mais significados sobre que o aconteceu com você e com aquilo que você se tornou. E este processo tornou esta foto importante para mim, e por isso a alegria em reencontrá-la.
Mas o quê, afinal, tem de especial nessa foto? Dê uma observada nos guris que estão atrás no alambrado, à direita do Mário (ou à esquerda para quem está olhando). Aquele que está ali, logo acima de um menino de boné, sou eu, do alto dos meus 17 anos de idade. Além de não imaginar que o momento seria eternizado em uma imagem, eu não tinha como cogitar que aquela seria uma das últimas oportunidades, por um longo período, em que eu estaria naquela arquibancada.
Aconteceu que, menos de um ano depois, eu comecei a trabalhar na imprensa esportiva, e com isso o hábito de ir ao estádio como torcedor teve de ser, durante bastante tempo, deixado de lado. É óbvio que não se deixa de gostar de um time, mas por responsabilidade e postura profissional, você se obriga a domar essa paixão e a amadurecer. Isso foi um exercício interessante, tanto que, anos depois, já desligado do jornalismo esportivo, voltei a frequentar as arquibancadas, e confesso que nunca mais tive o mesmo fervor daqueles anos juvenis.
De qualquer forma, é muito curioso olhar a foto e pensar que aquele momento influenciou o restante da minha vida. Aquele título do Juventude aguçou minha paixão pelo esporte, e sem dúvida foi fator decisivo que me direcionou ao jornalismo, moldando minha vida profissional e pessoal.
E se o Mário não tivesse empilhado gols em 1994 e empurrado o Juventude para a Série A, o que teria acontecido com aquele guri do alambrado? A única coisa 100% certa é que ele não estaria ali gritando e festejando, e fora isso resta o alucinado (e inútil) exercício da cogitação sobre o que não aconteceu.
O mundo se transformou, a motivação é diferente e as companhias são outras, mas o fato é que neste sábado (23), 30 anos depois, estarei na mítica ferradura sul, acompanhando mais um jogo do Juventude. A passagem do tempo muda muita coisa, mas nem tudo.