Um dos crimes mais bárbaros de Passo Fundo completou quatro anos no último domingo (19). Em 19 de maio de 2020, três pessoas da mesma família foram encontradas mortas dentro de casa, no bairro Cohab. As vítimas — Alessandro dos Santos (35), sua filha Kétlyn Padia dos Santos (15) e a tia da adolescente, Diênifer Padia (26) — morreram por asfixia. Mais de 1,4 mil dias depois, familiares pedem por justiça.
A investigação da Polícia Civil apurou o envolvimento de cinco pessoas no crime, todas denunciadas pelo Ministério Público por homicídio qualificado. São eles: Eleandro Roso, Fernanda Rizzotto, Claudiomir Rizzotto, Luciano Costa dos Santos e Monalisa Kich Anunciação.
Até o momento, apenas um dos cinco réus foi julgado: Eleandro Roso, tendo sido condenado a 69 anos e seis meses de prisão. Em 2022, ele foi acusado de ser o mandante do crime e estava preso de forma preventiva desde junho de 2020. Mais tarde, uma decisão do Tribunal de Justiça do RS reduziu a pena para 60 anos e oito meses de reclusão.
A situação dos demais denunciados no crime é a seguinte:
- Luciano Costa dos Santos: está em prisão preventiva e aguarda julgamento
- Monalisa Kich Anunciação: aguarda o julgamento em em liberdade
- Fernanda e Claudiomir Rizzotto: estão foragidos desde junho de 2020, quando receberam mandado de prisão.
— Já se passaram quatro anos e pouco avançamos no caso. Fernanda e Claudiomir não foram localizados e, enquanto estão foragidos, o processo não anda pois os dois ainda não foram citados na acusação. É preciso celeridade na localização deles — afirmou o advogado de defesa dos familiares das vítimas, Gustavo da Luz.
Por causa das enchentes que causaram mortes, estragos e o desligamento dos sistemas da Procergs em Porto Alegre, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul está com todos prazos e movimentações paradas até dia 31. Por isso, não há previsão de andamento no caso.
O que diz a denúncia do Ministério Público
A investigação apontou que o alvo do assassinato era Diênifer e que Alessandro e Kétlyn foram mortos para que não fossem testemunhas do crime. A asfixia dos três foi causada por um engasga gato. Na denúncia, o Ministério Público esclarece que Eleandro teve um relacionamento extraconjugal com Diênifer, antes funcionária e moradora da granja de Roso na cidade de Casca.
A relação resultou em um filho e, em seguida, Diênifer se mudou para Passo Fundo. Conforme a defesa da vítima, depois do nascimento da criança, Diênifer e Roso continuaram mantendo contato e o homem repassava valores à mulher. Ao tomar conhecimento do fato, a esposa de Eleandro, Fernanda, decide com o marido matar Diênifer.
Claudiomir, irmão de Fernanda, ajuda a contratar Luciano, um ex-policial que ajudaria a matar ou contratar um matador de aluguel para assassinar a vítima. Conforme a denúncia, Monalisa, companheira de Luciano, teria entrado em contato com Diênifer pela internet e simulado o interesse em um aparelho que ela estava vendendo com o objetivo de conhecer a casa da vítima e passar as características do imóvel ao marido.
No dia do crime, os executores contratados pelo grupo — não identificados até o momento — fingiram estar interessados em comprar móveis anunciados por Diênifer na internet. Dessa forma, combinaram as condições do negócio e o horário do encontro para buscar os objetos.
Ao chegar no local, por volta das 21h, os indivíduos renderam as vítimas e as estrangularam utilizando lacres de plásticos. Outras três crianças também estavam na casa e presenciaram o crime.
Fernanda Rizzotto e Eleandro Roso são acusados de um homicídio quadruplamente qualificado e dois homicídios triplicamente qualificados. Claudiomir, Luciano e Monalisa são acusados de três homicídios triplamente qualificados.
— A família das vítimas está dilacerada e sofre não só pela dor pela forma brutal e desproporcional de seus entes queridos, mas pela falta de efetivação da punição daqueles que merecem estarem atrás das grades, conforme demonstrou a investigação — disse o advogado Gustavo Luz.
O que dizem as defesas
Além de Eleandro, já condenado, Fernanda e Claudiomir Rizzotto nunca foram encontrados pela polícia.
O advogado José Paulo Schneider, que defende Luciano e Monalisa, informou à reportagem que assumiu o processo com um pedido de desaforamento do caso, ou seja, a mudança da competência do julgamento para outra comarca da mesma região, já em trâmite no TJ-RS. Recentemente, o pedido foi indeferido, mas a defesa recorrerá da decisão. O representante nega o envolvimento do casal na execução das mortes. Leia na íntegra:
"Explica-se, inicialmente, que a defesa originária dos acusados apresentou pedido de desaforamento para que o julgamento seja realizado em outra comarca, em virtude da grande repercussão social e midiática do caso, que pode interferir na íntima convicção dos jurados, criando uma predisposição à condenação dos acusados. Esta defesa técnica assumiu o caso com o pedido de desaforamento já em trâmite no TJ/RS, juntando documentos complementares. Recentemente o pedido foi indeferido, sendo que a respectiva decisão ainda não foi publicada, por conta da suspensão dos prazos processuais ocasionada pela catástrofe ambiental e humanitária que assola o Estado, sendo cabível novos recursos, portanto.
No ponto, embora a Colenda 2ª Câmara Criminal do TJ/RS tenha indeferido o pedido, a defesa técnica informa que irá recorrer da decisão, por entender que é caso de desaforamento, conforme os diversos documentos juntados ao pedido e, inclusive, juntará novos documentos relacionados a esta nova repercussão midiática, que apresentou novamente comentários imparciais por parte de determinado canal de mídia da cidade, predispondo a sociedade a condenar os acusados e tentando interferir na íntima convicção dos jurados. Em relação ao mérito dos fatos, a defesa técnica informa que irá apresentar as teses defensivas no futuro Plenário do Júri, adiantando que ambos os acusados negam o envolvimento com as trágicas mortes das vítimas".