Por Nadja Hartmann, jornalista
O vereador Rodinei Candeia (Republicanos) utilizou de todo o seu tempo no Grande Expediente de segunda-feira (11) para defender o projeto que obriga às escolas comunicarem os pais sobre atividades relacionadas à ideologia de gênero. Com o auditório lotado e dividido entre representantes da direita e de movimentos sociais e sindicatos, o vereador teceu uma ampla explicação sobre a sua visão de ideologia de gênero e “doutrinação” nas escolas.
Para isso, chegou a apresentar no telão uma narração de trechos isolados do livro “Avesso da Pele”, do escritor gaúcho Jeferson Tenório, que vem sendo alvo de censura nos estados do Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul. Antes da apresentação, pediu para retirarem as crianças do plenário...
Apesar do esforço do vereador na argumentação, o projeto foi rejeitado por 11 a 7, o que foi comemorado pelos representantes dos movimentos sociais, como uma “vitória da educação”. Porém, há quem diga que o fato de sete vereadores apoiarem o projeto, entre eles dois professores, não deveria ser motivo de comemoração, mas de vergonha...
Divisão
Parte dos vereadores preferiu não entrar no mérito da questão, justificando os seus votos contrários com a alegação de que o projeto era inconstitucional. Porém, outros vereadores como Alberi Grando (MDB), Regina Costa (PDT) e Eva Lorenzato (PT), foram enfáticos ao acusar o projeto de tentativa de censura aos professores. O vereador Alberi chegou a citar o período de 1964 a 1985 no país, quando escolas eram censuradas...
Apesar do autor do projeto ideologizar o debate fazendo acusações à esquerda, o resultado da votação não foi exatamente um retrato das posições ideológicas dos vereadores, já que representantes de partidos de centro-direita e direita, como Rufa Soldá (PP), Altamir dos Santos (Cidadania) e Indiomar dos Santos (Solidariedade) se posicionaram contrários à proposta.
Porém, quanto aos grupos de situação e oposição na Casa, a votação “embaralhou o meio de campo”, com vereadores aliados à administração defendendo com “unhas e dentes” o projeto do líder da oposição...
Reações
Entre os vereadores que votaram favoráveis ao projeto — Ada Munaretto (PL), Edson Nascimento (União Brasil), Gleison Consalter (PDT), Nharam Carvalho (União Brasil), Renato Tiecher (Podemos) e Sargento Trindade (PDT) —, o que pareceu mais inconformado pela derrubada da proposta foi Nharam, que chegou a ameaçar que “entraria porta adentro de uma sala de aula” se soubesse que um professor de seu neto estivesse abordando o assunto.
Já o autor do projeto, Rodinei Candeia, disse que não houve derrotados uma vez que, segundo ele, a sociedade saiu ganhando pelo fato do legislativo ter provocado esse debate “tão necessário”. Será? E a falta de estrutura e segurança nas escolas? E a falta de professores nas escolas? E o salário dos professores?
Inovação
Interessante que a votação de um projeto que poderia representar um atraso na abordagem de um tema que durante tantas décadas foi considerado um tabu tenha acontecido no mesmo dia que Passo Fundo ganhou uma sede para a sua nova Secretaria de Inovação.
Geralmente atrelada apenas ao setor empresarial, a palavra inovação possui um conceito bem mais amplo na sua essência. Etimologicamente, inovação vem do verbo latim “inovare”, que significa renovação, mudanças, ou seja, o ato de inovar, modificando antigos costumes. Que bom que Passo Fundo provou que não é um município que opta pela inovação na economia, mas escolhe o retrocesso quando se trata da pauta de costumes...
Frustração
As primeiras reuniões entre o Executivo, Simpasso e CMP para tratar do reajuste do funcionalismo municipal acabaram sem avanço, já que os representantes da prefeitura foram para a mesa sem uma proposta de negociação, o que acabou frustrando os dirigentes sindicais.
A justificativa foi que o fechamento oficial dos índices inflacionários ainda não foi divulgado. Porém, pelo retrospecto dos reajustes acertados em algumas prefeituras da região, as perspectivas não são positivas... Em Erechim, por exemplo, o reajuste foi de 4,62% e em Carazinho de 4,68%, índices muito próximos do percentual definido pela prefeitura no orçamento aprovado pela Câmara, que foi de 5%.
O Simpasso reivindica 12,51% sem parcelamento e R$1.500 de vale-alimentação enquanto o CMP, que representa os professores municipais, reivindica 14,4%. Nova rodada de negociação está marcada para esta quinta-feira (14), quando os sindicatos esperam que o município apresente uma proposta.
O vice do MDB
Parece que não é só em Passo Fundo que o grupo que está no comando do município vem encontrando dificuldades para indicar o candidato à vice na majoritária. Pode até ser estratégia, mas por outro lado, pode ser interpretado como fragilidade.
Em Carazinho, depois do MDB ter aberto mão da cabeça de chapa para o PP, indicando o vereador Daniel Weber para candidato à sucessão do prefeito Milton Schmitz, o partido deve optar por lançar um “outsider” na política para concorrer à vice-prefeito.
O nome escolhido é do presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho, Jocélio Cunha. Com um trabalho comunitário importante junto ao HCC e com reconhecimento no meio empresarial, Jocélio afirmou a esta coluna, que ainda não aceitou o convite mas que “a pressão está muito grande”.
Porém, fontes garantem que a candidatura já foi acertada durante a vinda do deputado Márcio Biolchi (MDB) à Carazinho para inauguração das novas instalações do hospital.
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