Por Nadja Hartmann, jornalista
Precisar? Não precisava... Vai fazer diferença? Provavelmente, nenhuma... Vai impactar na vida da população? Certamente não... Mesmo assim, os vereadores de Passo Fundo dedicaram boa parte da sessão de quarta-feira (6) para debater sobre a moção de repúdio de autoria do vereador Gio Krug (PSD) à indicação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Sobre a situação dramática enfrentada por famílias do interior que estão ilhadas devido ao estado das estradas depois das chuvas? Nenhuma palavra! Porém, o vereador Gio Krug se sentiu ofendido e exigiu um pedido de desculpas da vereadora Eva Lorenzato (PT) por ela ter afirmado que a discussão era uma “baboseira” e que havia matérias mais importantes para debater...
Ainda em tempo...
No final, mesmo com um placar apertado de 9 a 8, a moção acabou aprovada. Na justificativa, o autor do projeto chama atenção para o “viés político” da indicação, o que pode comprometer “a imparcialidade necessária para a função”. Também aponta “precedentes questionáveis em relação a princípios fundamentais do Estado de Direito e da Justiça”.
A moção de repúdio da Câmara de Passo Fundo será encaminhada agora para o presidente Lula, para o presidente do Senado Rodrigo Pacheco e para o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Deve chegar ainda a tempo de ser analisada, antes da sabatina de Dino no Senado, marcada para 13 de dezembro.
Divisão
A votação mais uma vez dividiu a oposição e a situação e também as bancadas, sendo que os votos contrários foram dos vereadores Altamir dos Santos (Cidadania), Ernesto dos Santos (PDT), Eva Lorenzato (PT), Indiomar dos Santos (Solidariedade), Janaína Portella (MDB), Luizinho Vallendorf (PSDB), Michel Oliveira (PSB) e Regina Costa (PDT).
O único vereador que fez questão de justificar o seu voto favorável na tribuna foi Edson Nascimento, do União Brasil. Segundo o vereador, ele é contrário à indicação porque “quando a pessoa faz uma escolha, tem que seguir aquele caminho e não pode voltar atrás, indo e voltando”.
Justificativa enigmática
...A afirmação um tanto enigmática para a ocasião foi interpretada por alguns como um recado ao secretário Rafael Colussi, presente na sessão, e que já se afastou duas vezes da Câmara para assumir a Secretaria do Meio Ambiente e que agora está prestes a reassumir a cadeira no legislativo novamente, hoje ocupada por Edson Nascimento, suplente do partido... por enquanto, uma vez que já está com um pé no ninho tucano...
Sendo assim, a justificativa do vereador de que “quem segue um caminho não pode voltar atrás” também não se aplica... Ou se aplica?
Coragem
O deputado Luciano Azevedo (PSD) fez questão de abrir seu discurso no jantar da Acisa, na noite de quarta-feira (6), citando um trecho de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, que diz que “o que a vida quer da gente é coragem”. E foi preciso mesmo muita coragem do governador Eduardo Leite para defender o aumento do ICMS diante de uma plateia formada por centenas de empresários.
Agraciado com o Troféu Mérito Político pela entidade, Leite não se eximiu de tocar no assunto, e mais do que isso, justificar a necessidade do aumento, citando dados técnicos. Chegou, inclusive, a brincar dizendo que, se a proposta tivesse sido anunciada antes, certamente ele não seria escolhido para receber a homenagem...
Regra de etiqueta
...Já os dirigentes da Acisa, como anfitriões da noite, seguiram a regra da boa etiqueta de não constranger o convidado e não tocaram no assunto. O tom mais crítico à proposta veio do deputado Luciano, que mesmo também mantendo o tom diplomático no discurso, com elogios ao governador, chamou atenção para a alta carga tributária paga pelo setor produtivo gaúcho. Apesar do PSD fazer parte do governo Leite, o único deputado do partido na Assembleia, o Gaúcho da Geral, já declarou voto contrário ao aumento da alíquota.
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