Por Nadja Hartmann, jornalista
Mesmo com o projeto que autoriza o município permitir a empresa PAR Soluções Agrícolas retomar as atividades na área da antiga Manitowoc já tramitando na Câmara, com a assinatura de 14 parlamentares, um grupo de vereadores esteve reunido nesta segunda-feira (8) com o empresário Marcello Gandini, da PVT Agriculture, de Tapejara, empresa que pretende investir na mesma área.
Segundo o empresário, a PVT já havia formalizado o interesse na área desde o governo passado. Em vídeo gravado em frente a sede da Manitowoc, nos Estados Unidos, e publicado nas redes sociais, Gandini diz que espera que “haja um interesse em decidir pelo correto”.
Com o título “Qual a verdade sobre a Manitowoc Passo Fundo”, o empresário afirma que não trabalha ao apagar das luzes, “fazendo movimentações estranhas, tanto que todos os envolvidos estavam sabendo da boa vontade da PVT em retomar as atividades na área”.
Contrapartida
Na apresentação feita a 15 vereadores, o empresário anunciou que a empresa fabricante de pulverizadores e distribuidores autopropelidos é a quinta do ramo agrícola que mais cresceu no mercado global nos últimos cinco anos. Atualmente gera 500 empregos diretos e indiretos, com um aumento de 1.000% no número de colaboradores nos últimos cinco anos.
Ainda segundo ele, a empresa comemora um crescimento financeiro de 831% nos últimos cinco anos. Como parte da proposta para a área de Passo Fundo, a empresa pretende instalar uma Farm Indoor, que é uma fazenda interna, se transformando na única do Brasil a oferecer esta estrutura aos clientes.
Como contrapartida ao município, o empresário propõe a construção de escolas públicas “de qualidade internacionalmente reconhecida”, construção de creches, postos de saúde e casas de repouso. Além disso, a empresa vai oferecer uma creche interna aos funcionários.
A expectativa é de geração de 350 empregos diretos dentro de cinco anos, 180 diretos até o fim do primeiro ano de atividade, sendo 100 nos primeiros seis meses.
“Imbróglio”
Segundo o presidente da Câmara, Alberi Grando (MDB), a reunião teve o objetivo de dar oportunidade para que o empresário apresentasse a sua proposta, assim como foi dada para a empresa PAR Soluções Agrícolas, inclusive com o mesmo tempo de exposição.
— O Legislativo, como instituição, não pode favorecer uma ou outra empresa. Houve muita pressão para que eu assinasse, mas como presidente não posso tomar posição nenhuma — afirmou Grando, que, inclusive, não assinou o projeto que visa garantir a área para a PAR Soluções Agrícolas.
Sobre a proposta apresentada pela PVT, Grando afirma que as duas empresas possuem propostas bastante parecidas e lamenta que o “imbróglio” esteja atrasando a geração de tantos empregos e renda. E pode atrasar mais, segundo ele, uma vez que a decisão deve mesmo ser da Justiça.
Mesmo assim, caso o projeto seja aprovado, cabe ao prefeito vetar ou sancionar. Porém, na possibilidade do prefeito silenciar, vai caber ao presidente da Câmara promulgar ou não. Apesar que não se descarta a hipótese de ser protocolado um outro projeto com o mesmo teor, só que garantindo a área para a empresa PVT... E aí?
Dossiê
O prefeito de Carazinho, Milton Schmitz, está em Porto Alegre, onde desde ontem percorre uma verdadeira maratona entre os gabinetes levando embaixo do braço o dossiê que apresenta os motivos para impedir a construção do Presídio na BR-285.
Intermediada pelo deputado Márcio Biolchi (MDB), o prefeito deve se reunir com o governador Eduardo Leite quando fará a entrega em mãos de um documento assinado pelas entidades de classe de município, manifestando a posição totalmente contrária à obra.
Entre os motivos apresentados no documento, estão que o local fica nas proximidades do Arroio do Engenho, afluente do Rio da Várzea, que abastece a cidade, com grandes riscos de contaminação dos recursos hídricos. O documento também alerta para a possibilidade de fugas em uma rodovia com grande movimento de veículos, com risco, inclusive, de reféns.
Um dos principais pontos citados é a distância de 35 quilômetros de Passo Fundo, o que obrigará o Estado contratar transporte para deslocamento de funcionários e agentes, representando mais custos. Além disso, é citada também a dificuldade para os familiares dos detentos se deslocarem até o local.
“Tapa na cara”
As lideranças de Carazinho defendem que a BR-285, uma das mais importantes do país e rota do Mercosul é uma rodovia vocacionada ao desenvolvimento, com a instalação de indústrias e não de casas prisionais.
O texto chama a atenção para a necessidade de estudos ambientais, de impacto de vizinhança e de viabilidade, o que, segundo o texto, ainda não foi feito, assim como não foram ouvidos os municípios diretamente impactados com a obra.
“O processo está sendo encaminhado de forma totalmente inadequada. Simplesmente está se buscando aproveitar um terreno que está disponível para a execução do projeto de forma impensada”, cita o documento, solicitando que o Governo do Estado não permita que a obra seja retomada naquele local.
Como alternativa, é sugerido que caso Passo Fundo não possua outra área, a obra possa ser edificada em Carazinho, solucionando o problema do Presídio Estadual, também instalado em local inadequado. Em reunião com lideranças na ACIC-Carazinho na última segunda-feira, Milton Schmitz afirmou que a construção do Presídio na BR-285 representa um “tapa na cara” de Carazinho.
Ausência
Só faltou o prefeito Pedro Almeida na sessão especial da Câmara de Vereadores em homenagem ao aniversário de Passo Fundo.
Prestigiada pelas principais autoridades e lideranças de diferentes setores do município, a sessão teve direito até a vereadores chorando de emoção na tribuna, como Ada Munaretto (PL), que discursou enrolada na bandeira do município.
Outros vereadores fizeram questão de estampar no peito o amor à cidade com a camiseta temática confeccionada para o aniversário. Segundo a assessoria do prefeito, houve choque de agenda, já que no mesmo horário, ele participava da inauguração da Escola Pública de Arte e Criatividade.
Eleição
Pelo menos a ausência do prefeito permitiu que o vice João Pedro Nunes tivesse o gostinho de voltar a usar a tribuna da Câmara por 5 minutos, o que, se depender da vontade dele — e dos eleitores, é claro —, deverá voltar a fazer parte da sua rotina a partir de janeiro de 2025...
Para isso, porém, o MDB terá que superar a matemática das urnas, somando a terceira cadeira na Câmara, uma tarefa que pode não ser simples sem a sigla ocupar um papel de protagonismo na majoritária. A outra opção é um dos atuais vereadores do partido não se reeleger...
Vale lembrar, porém, que como foi reeleito vice, João Pedro não pode concorrer mais ao mesmo cargo, mas pode concorrer à prefeito, desde que não ocupe o cargo nos seis meses anteriores à reeleição.
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