É natural que a maior parte das atenções dos gaúchos se volte para Porto Alegre e outras cidades maiores do Estado, mas os médios e pequenos municípios do Rio Grande do Sul também enfrentam, em seus hospitais, uma situação crítica de aperto na oferta de vagas e, mais grave ainda, uma iminente falta de medicamentos. Drogas usadas em pacientes com covid-19 internados em leitos clínicos, em UTIs e submetidos à ventilação mecânica estão prestes a acabar e, em alguns casos, já há problemas de indisponibilidade.
O alerta sobre a escassez de medicamentos foi disparado na semana passada pela Federação das Santas Casas
O quadro dramático exige uma atitude diligente por parte das autoridades de saúde para buscar sanar este grave problema. Aguarda-se que o repasse de R$ 70 milhões do Judiciário, Assembleia e demais órgãos autônomos do Estado, anunciado na sexta-feira, seja efetivado o mais rápido possível para que os hospitais possam ser socorridos brevemente. O alerta sobre a escassez de medicamentos foi disparado na semana passada pela Federação das Santas Casas, e o fim dos estoques já se tornou um um drama real, por exemplo, em São Gabriel, conforme relatado em reportagem de GZH. Na Santa Casa do município da Fronteira Oeste, pacientes sedados chegaram a despertar pela falta dos fármacos. Em Ijuí, no Noroeste, a situação aflitiva é semelhante, com grande dificuldade para adquirir insumos.
Os depoimentos dos gestores de hospitais dos quatro cantos do Estado são parecidos. Enquanto há enorme necessidade de comprar medicamentos, como os do chamado kit entubação, a oferta é escassa e os preços dispararam. O colapso, lamentavelmente, leva pacientes que teriam melhores chances de sobrevivência se atendidos de forma usual a sucumbir, elevando a contabilidade macabra do Rio Grande do Sul, onde a covid-19 já fez mais de 17 mil vítimas. Na terça-feira ocorreu a primeira reunião da Secretaria Estadual da Saúde e da Federação das Santas Casas para tratar da operacionalização dos repasses, mas, por enquanto, não há definição sobre como ou quando ocorrerão. É preciso pressa. Compreende-se que existam trâmites a serem vencidos, mas cada dia de demora significa mais famílias gaúchas enlutadas.
Em outra frente que dedica atenção especial ao Interior é possível celebrar avanços. Até ontem à tarde, 433 dos 497 municípios gaúchos haviam respondido à pesquisa do movimento Unidos Pela Vacina, que busca detectar, nas cidades, gargalos que possam afetar a velocidade da imunização quando existirem doses suficientes para a aplicação ganhar velocidade. A iniciativa, personalizada pela empresária Luiza Trajano, conta no Estado com a adesão da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) para coletar as informações sobre carências locais. O objetivo é, em um segundo momento, buscar formas de saná-las. Na busca por soluções, a ciência desenvolvida em solo gaúcho também vem fazendo a sua parte. Um exemplo é o equipamento portátil criado pelo Instituto de Física da UFRGS que permite armazenar vacinas que precisem ficar acondicionadas em temperaturas de até - 80°C. Trata-se de uma engenhosidade que pode ter grande utilidade em localidades do Interior. O momento desafiador impõe, mais do que nunca, convergência, união de esforços e inventividade para suplantar os obstáculos à frente.