Merece extrema atenção o grito de socorro de hospitais, prefeituras e governos estaduais sobre o risco de falta de medicamentos e oxigênio para o amparo a pacientes com covid-19. Enquanto há sucessivos recordes de internações em UTIs e uma corrida contra o tempo para abrir mais leitos, gestores alertam que estão próximos do fim os estoques de drogas utilizadas nos procedimentos de entubação, como os anestésicos. No Rio Grande do Sul, o aviso quanto ao quadro dramático partiu da Federação das Santas Casas, que responde por cerca da metade das vagas de tratamento intensivo.
A prioridade é unir esforços em torno da busca por viabilizar todos os medicamentos e equipamentos necessários
Em um apelo no mesmo sentido, o Fórum Nacional de Governadores encaminhou um ofício ao Planalto chamando a atenção para a iminência da falta de 11 remédios como sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares, com a súplica para que o Executivo busque, se for o caso no Exterior, os produtos que estão em vias de acabar. Movimento semelhante foi feito pela Frente Nacional de Prefeitos.
A situação calamitosa, que ameaça agravar ainda mais a tragédia que se abate sobre o Estado e o país, requer uma resposta imediata. Pela premência, não é possível aguardar a ação de Brasília, apesar do esforço para que ela aconteça, com resultados nas próximas semanas. A busca por saídas tem de ser imediata. No caso do Rio Grande do Sul, felizmente, foi deflagrada na quinta-feira uma mobilização para sensibilizar os poderes que recebem recursos públicos sobre a necessidade de redirecionar recursos para a saúde.
A iniciativa, que teve no programa Atualidade, da Radio Gaúcha, o ponto de partida, fez os poderes e órgãos autônomos do Estado se unirem e anunciarem na sexta-feira à noite a destinação de R$ 70 milhões de seus orçamentos para ajudar os hospitais. São verbas que serão repassadas por Assembleia, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Contas do Estado para o custeio de leitos, medicamentos e demais insumos. O montante será, depois, complementado pelo Executivo. É um movimento de solidariedade que se espera que ganhe novas e importantes adesões nos próximos dias. Outra medida relevante, em elaboração pela Secretaria Estadual da Fazenda, é a isenção de ICMS sobre equipamentos e produtos doados para a rede hospitalar do Rio Grande do Sul. Será, certamente, um incentivo para mais contribuições.
Há um outro aspecto relacionado à súplica dos hospitais que precisa ser tratado pelas autoridades competentes: o aumento absurdo de preços dos insumos médicos. Há relatos de alta de até 300% nos valores. Mesmo que exista aumento de demanda, os reajustes citados por gestores são injustificáveis. É execrável aproveitar-se de uma situação catastrófica e do momento de desespero, com vidas em jogo, para auferir lucro desalinhado com as leis de um mercado ético. Mas a prioridade, agora, é unir esforços em torno da busca por viabilizar que os hospitais tenham os medicamentos e equipamentos necessários. Todas as energias devem ser canalizadas para evitar uma calamidade ainda maior, que se traduziria em mais mortes evitáveis pela impossibilidade de atendimento adequado.