Os brasileiros atravessam dias especialmente difíceis. A pandemia que ceifou cerca de 280 mil vidas, em seu auge, inibe a economia e dificulta a queda do desemprego. Ao mesmo tempo, a população passa o sufoco de ter a renda carcomida pela inflação em níveis inquietantes. Em 12 meses até fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 5,2%, uma variação muito próxima do teto da meta do Banco Central (BC), de 5,25% para este ano, e com tendência de alta. Preocupa a escalada dos preços dos alimentos e bebidas, com grande peso nos gastos das famílias mais humildes, que variaram 15% de janeiro de 2020 ao mês passado, e dos combustíveis, com uma aceleração de 9,3% apenas no acumulado do primeiro bimestre.
Apesar do ambiente recessivo, analistas consideram certo que o Copom inicia nesta quarta-feira um novo ciclo de alta do juro
Apesar do ambiente recessivo, analistas consideram certo que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC inicia nesta quarta-feira um novo ciclo de alta do juro, após quase seis anos de taxas declinantes, hoje em 2% ao ano. É uma decisão que enfrenta certo dilema, uma vez que a elevação da Selic significa, em regra, um freio na economia – já com demanda fraca – e aumenta o custo da rolagem da dívida pública pelo Tesouro. Mas também há o alerta de que, sem o ajuste no juro, o quadro inflacionário pode se deteriorar ainda mais. Diante da situação fiscal frágil, começar a subir a taxa básica, apontam economistas, pode ser a medida possível para evitar uma valorização ainda maior do dólar, que teria efeitos mais nefastos nos preços de muitos alimentos que oscilam de acordo com as cotações internacionais, assim como no caso dos combustíveis.
Um número cada vez maior de especialistas também começa a advertir sobre o risco de o Brasil estar ingressando em um período de estagflação. Ou seja, um péssimo cenário formado por inflação em alta e economia travada. Diante da crise sanitária, a política monetária tem pouco poder, neste momento, de dar impulso aos negócios e aos investimentos. Mas pode ao menos ajudar a evitar uma piora na outra ponta, a da renda corroída pela remarcação dos preços, especialmente para a população mais carente, muitos sem ganhos e à espera da volta do auxílio emergencial, após três meses de interrupção do programa.
A solução para a atividade é conhecida. Só será possível reativar a economia depois de o Brasil acelerar a vacinação e atingir uma cobertura satisfatória. Apenas a imunização em massa, associada à manutenção de cuidados individuais, vai assegurar o retorno seguro ao trabalho e a reabertura com mais confiança da economia, como no caso dos serviços, setor de maior peso no PIB e que sofre de maneira mais profunda com as restrições para frear contágios. No que cabe à sociedade, portanto, é preciso pressionar para que os novos cronogramas não sejam outra vez descumpridos e, nos próximos meses, o país tenha de fato uma velocidade maior na aplicação das doses protetoras contra a covid-19 nos brasileiros.