O quadro de permanente crise atravessado pelo país nos últimos anos faz com que devam ser recebidos com alívio e esperanças indicadores que mostrem algum grau de reação da economia. Isso não significa, porém, abandonar uma análise fria da realidade e adotar postura ufana. Uma dessas notícias positivas pinçadas em meio às preocupações predominantes se refere ao mercado de trabalho. Embora saiba-se que o nível de ocupação tem sido afetado pela pandemia, surpreenderam positivamente os números de janeiro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Com um resultado acima das expectativas, o país criou 260 mil vagas formais no primeiro mês do ano e, o Rio Grande do Sul, 27,2 mil postos de carteira assinada. Nos dois casos, foi o melhor janeiro desde o início da divulgação do indicador, em 1992.
O surgimento de pequenas janelas em meio à crise permite uma evidente melhora no mercado de trabalho
Especialistas observam que as análises nos últimos meses podem ser prejudicadas por mudança de metodologia no Caged, a partir do ano passado, e também pelo número menor de empresas que alimentaram o banco de dados no período inicial da pandemia. Assim, avalia-se que muitos empregadores deixaram de informar demissões, especialmente no segundo trimestre de 2020, por simplesmente terem fechado as portas. Isso não invalida, de qualquer forma, o excelente resultado de janeiro de 2021, com as contratações superando os desligamentos em todos os setores.
No caso do Rio Grande do Sul, o desempenho foi influenciado especialmente pelas indústrias coureiro-calçadista e fumageira. Em alguns casos, é algo sazonal. É a mesma situação da agricultura, com a colheita da maçã na região dos Campos de Cima da Serra, tradicionalmente com grande demanda por mão de obra nesta época. Mas também é preciso observar que mesmo o comércio, com janeiros costumeiramente fracos, apresentou resultado positivo. Mesmo assim, ainda não foi possível recuperar todas as perdas acumuladas desde a irrupção da pandemia. De março do ano passado a janeiro, o Estado tem uma eliminação líquida de 31,2 mil vagas com carteira assinada.
Com a piora da pandemia, a partir do final de fevereiro o Estado adotou medidas mais restritivas que podem se refletir em um refluxo no saldo do Caged. Vale o mesmo para outras unidades da federação. Assim, não é possível contar com novos números fortes no curto prazo. Cumpre lembrar ainda que a taxa de desemprego calculada pelo IBGE inclui os trabalhadores informais e segue em um patamar alto – 11,2% ao fim de janeiro. Mas faz-se necessário notar que o surgimento de pequenas janelas em meio à crise permite uma evidente melhora no mercado de trabalho, mesmo que pontual e puxada por modalidades como o trabalho intermitente.
O IBC-Br, espécie de prévia do PIB, também surpreendeu e avançou 1,04% em janeiro. No caso do Estado, o nível de atividade tende a ser melhor ao longo de 2021, após retração de 7% na economia em 2020, influenciada pela forte estiagem que afetou especialmente a produção de soja. Na atual safra, porém, o clima favorece uma boa colheita, permitindo esperar a disseminação de benefícios para outros setores. São dados que permitem certo otimismo, mesmo que moderado. São uma sinalização de que, quando o Brasil avançar na vacinação e começar a vencer a pandemia, atividade e mercado de trabalho têm condições de reagir de forma mais robusta. Isso, claro, contando que não estourem novas crises a partir de Brasília.